segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

QUEM É O MEU ANO NOVO!


 
Cabelos de sabedoria.

Olhos de bondade e esperança.

Boca de verdade e justiça.

Braços de união e alegria.

Mãos de carinho e solidariedade.

Tronco de amor e felicidade.

Passos de determinação.

Este é o meu ano novo!!!

 

 DIOGO_MAR

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O MEU PINHEIRO DE NATAL


 
Raízes de felicidade


Tronco de união


Ramos de amor e solidariedade


Luzes de esperança.


Este é o meu pinheiro de natal!!!



DIOGO_MAR

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

UM NATAL MAIS QUE PERFEITO


 
Lembro aquele natal inesquecível, foi o mais terno e feliz, que a minha família podia ter.
O processo de guarda do Rodrigo, requerido pelos meus Pais junto do tribunal, ficando com a sua custódia, finalmente teve o seu epílogo.
Os meus Pais, em conjunto com o nosso advogado, interpuseram recurso, devidamente fundamentado, de forma categórica e inequívoca, rebatendo a primeira tomada de decisão, que não nos tinha sido favorável.
Reuníamos todas as condições, socioeconómicas, para ficar-mos com o Rodrigo.
Além disso, era-mos uma família solidamente estruturada.
O meu Pai, sabia muito bem esgrimir os seus direitos de Padrinho, e não se deixava vencer facilmente.
Tudo se resume, a uma questão de carater e personalidade, que sou orgulhosamente herdeiro.
Era um homem determinado na luta e defesa das causas.
Esta, era do afilhado, de quem tanto gosta.

A prepotência ditatorial do homem, e das leis, não podem padecer de tão profunda e cruel cegueira.
Acredita em nós Diogo.

Estas palavras e a forte convicção dos meus Pais, deixavam-me tranquilo.
Eu não tecia comentários, sobre o assunto ao Rodrigo, para não lhe elevar, os índices de ansiedade, tinha receio, que cometesse algum ato irrefletido.
Dado adquirido, ninguém da aldeia e da escola, aceitavam que ele fosse para uma instituição, a começar pelo Rodrigo.
Por tudo isto, eu era muito contido no que concerne a esta matéria.
Eram as instruções, que os meus Pais me tinham dado.
Não lhe devia alimentar, falsas espectativas.
Dizia-lhe sempre para ter esperança.
Ele andava muito revoltado, pelo empasse em que estava a decisão, do recurso entreposto.
Mas depositava nos meus Pais, toda a confiança, e desabafava dizendo.

Diogo, só os Padrinhos me podem salvar.

Eu todas as noites, rezava para que tudo corresse a nosso contento.
Fiz uma promessa à Santa Rita, dar-lhe nove velas, tantas como a idade do Rodrigo.
Pedia-lhe, para nos ajudar a ganhar esta questão, e dessa forma dar-me, o irmão que eu tanto queria.
A minha Mãe, depois da gravidez de alto risco, a quando da minha gestação, ficou impossibilitada de ter mais filhos.
Um de nós esteve a morrer, mas felizmente estamos cá os dois, e muito felizes.
Tenho a melhor Mãe do mundo, e eu tudo faço para ser um bom filho.
Ao fim de uma luta titânica, por parte dos meus Pais, fazendo valer o grau de parentesco de Padrinhos, tudo chegou a bom porto.
Foi um processo que esbarrou em vários obstáculos, já que o tribunal, mostrava-se intransigente, em abdicar da decisão de institucionalizar o Rodrigo.
Todos sofremos muito com esse fantasma a pairar sobre as nossas cabeças.
Era uma guilhotina, que a qualquer momento podia decepar a vida do Rodrigo, ferindo de morte, no seu amor-próprio, e a nossa, pelo amor que todos lhe temos.
A frieza e por vezes indiferença, que as mais altas instâncias, abordam e tratam, estes processos, são execráveis.
Eu sempre acreditei, na capacidade e eficiência do meu Pai, e do advogado a conduzir este assunto, tão melindroso.
Por vezes via-o, de semblante carregado, quando lhe preguntava como ia o processo.
Ele era lacónico na resposta, outras vezes algo evasivo, Evitando o meu sofrimento.
Estava ciente da importância que eu dava a adoção do Rodrigo.
O meus Pais sempre me diziam.

Diogo, mantém a calma, tudo está a ser feito com o intuito de trazer para nossa casa definitivamente o Rodrigo.
Temos de dar tempo, ao tempo.
Saber esperar é uma virtude, e devemos saber lidar com isso.
Escuta bem filho.
Faz disto um lema de vida.
Contra a teimosia, nada melhor que a persistência.

Estávamos pela primeira semana de dezembro quando chegou a resposta pela boca do advogado.
Deslocou-se a nossa casa, reunimos na sala.
Aquele hiato de tempo, de abrir a pasta, pegar nas folhas, foram minutos transformados em horas.
Os meus Pais, transpareciam uma calma aparente, eu estava mais tenso.

Diogo, o Rodrigo é teu irmão.
Ganhamos o recurso.
Foi dado o veredito final.

Eu não cabia em mim de felicidade.
O sonho de ter um irmão, realizava-se.
Saltei do sofá, gritando.
Ganhamos ganhamos ganhamos.
Abracei os meus Pais a chorar de alegria.
Com tanta emoção, só sabia agradecer-lhes.
Vi lágrimas nos olhos dos meus Pais.
O semblante do advogado, transparecia felicidade, pelo dever cumprido.
Terminava ali, o caminho tormentoso do Rodrigo, e Os maus tratos, que o Pai, lhe infligia, e o calvário deixado, pelo abandono da Mãe.
Agora juntos, Íamos desbravar novos horizontes, para um traçado de vida em comum.
Partilhar os mesmos Pais, a mesma casa, a mesma mesa e as mesmas brincadeiras.
Deixei que fossem os meus Pais a darem a notícia ao Rodrigo.
Foi no almoço de sábado em minha casa, que lhe foi transmitido, tão ansioso desfeche.
Os olhos tinham um azul cintilante, sedentos por saber qual o destino que o esperava.
Estava de rosto algo fechado, vi-lhe muito medo, daquele momento.
Foi então que o meu Pai, disse.

Rodrigo, este natal vai ser diferente.

Aquela pausa, parecia infindável.

Como assim Padrinho?

Esta casa é tua, o Diogo é teu irmão, nós os teus Pais.

Caiu no choro convulsivo, abraçado a mim, dizia: finalmente somos irmãos!
Não cabia nele, de tanta euforia.

Somos irmãos Diogo!
Deus existe!
A Santa Rita também!

Abraçou o meu Pai dando-lhe um beijo.
Obrigado Padrinho, és um herói.

Rodrigo, não há heróis, à sim, garra e determinação, de lutar pelos nossos objetivos.

Acabou no colo da minha Mãe, momento carregado de enorme singularidade, e afeto.
Já não se lembrava, de ser acolhido, pelo único e melhor regaço do mundo, o de Mãe.

Adoro-te Mãe.
Agora não vos trato por Padrinhos, mas sim por meus Pais.
Tudo vou fazer, para vos retribuir e agradecer, todo o empenho na defesa desta minha causa.
Saberei estar a altura, da aposta que fizeram, e do investimento que vão fazer em mim.
Obrigado Pai, Mãe e mano, aquece-me o coração, poder prenunciar estes nomes.

Rodrigo, vamos-te ministrar os mesmos padrões educacionais do Diogo.
A partir de hoje, tens os mesmos direitos e obrigações do teu irmão.

Sim Pai, é justo que assim seja.

A minha Mãe afagava-lhe o rosto, e cobria-o de beijos, da forma carinhosa que eu bem conhecia.
Fui inundado por uma inusitada felicidade.

Bom, meninos, sabem qual vão ser as vossas tarefas para esta tarde?

O quê Pai?

Preparar o quarto do Rodrigo, e depois uma surpresa.

Qual?

Vamos todos fazer a nossa árvore de natal, este ano ela reveste-se de um significado, redobrado e especial.

Boa, o pinheiro de natal vai-se chamar Rodrigo!

Não Diogo, vamos é deitá-lo no presépio!

Gracejou o meu Pai.
Soltamos em coro, uma sonora gargalhada.
Respirava-se um ar pleno de felicidade.

Agora meninos, acabou o secretismo relacionado com o processo do Rodrigo.
Quanto aos trâmites que faltam, nos próximos dias tudo ficará concluído.
Já podem dizer na aldeia, e na escola que ele está definitivamente em nossa casa, e que faz parte integrante da nossa família.
Assim se faz o natal!!!

 

DIOGO_MAR

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A MINHA SOPA DE LETRAS



Confesso, que ao contrário de muitas crianças, eu sempre gostei de sopa.
Os meus Pais, sempre me incutiram a importância que ela representa para a nossa alimentação.
Daí, nunca ter mostrado qualquer relutância.
Desde a sopa confecionada pela minha Avó, até a da minha Mãe, adquiri esse bom hábito.
Passada, ou por passar, eu é que nunca passava sem uma boa sopa.
Mas havia, uma que particularmente me chamava a atenção.
A sopa de letras.
Isto porque tentava retê-las no fundo do prato, para no fim ver que palavras conseguia obter.
Aquele momento envolto numa perfeita incógnita aguçava-me a curiosidade, e porque não dizer o apetite.
Qual seria o desfeche?
Sugeria à minha Mãe, que me servisse a sopa no fim, para que dessa forma não ficassem à espera do acasalamento das letras, para construir as palavras que elas me proporcionassem.
Na minha família já todos conheciam a paixão que eu nutria pela sopa de letras.
Ela foi rebatizada, com o cognome, sopa do Diogo.
Os meus Pais dizem que a primeira palavra que construí, foi o meu nome.
Por várias vezes tentei escrever o nome dos meus Pais, mas com trinta diabos, faltava-me sempre a letra R!
Porque haviam eles de ter em comum o R no nome!
Será que que no empacotamento não introduziam de forma igualitária todas as letras?
Eu já não tinha idade para dizer, Pedo e Cataina!
Imaginem como ficaria a lengalenga, do ato que oeu a olha da gaafa do ei da ússia!
Ainda hoje riu, ao comer sopa de letras.
Traz-me a memória esses tempos idos, de uma imaginação entregue as sortes de um prato de sopa.
Recordo um episódio, que fez o meu Pai soltar uma sonora gargalhada.
Eu naquele dia tinha conseguido escrever, o benfica e campiao!
Claro está que lhe faltavam os acentos.
Ele que era Portista, em tom provocatório apressou-se a juntar as letras, e responder-me.
Isso já foi ha muito tempo!
Claro está que eu rapidamente comi uma boa colher de letras para o não deixar escrever mais.

Diogo, grande batoteiro!
Muitas vezes o meu Pai, ficava a ajudar-me a catar as letras, para simplificar o desafio a minha paciência.
Enquanto isso, a minha Mãe, arrumava a cozinha, e gracejava dizendo:

Olha que dois!
Ela já conhecia a grande paixão que eu e o meu Pai sempre evidenciamos por jogos de paciência.
Não era por acaso que tinha o meu quarto quase todo forrado de puzzles, onde eu investia uma boa parte do meu tempo libre.
Olhando agora para traz, até que encontro um paralelismo entre a sopa de letras  e o puzzle
Ambos aguçavam a arte e engenho, para algo que temos de procurar de forma incessante na sopa da vida, onde nos vão sempre faltar letras!

 

DIOGO_MAR

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

UMA MOCHILA CHAMADA FELICIDADE






De corpo franzino, pele bastante clara, olhos de um azul vivo, cabelo cor avelã.
É o retrato físico do personagem desta História.
Uma criança, de carater e personalidade vincada, determinado nas suas tomadas de decisão.
De espirito solidário, dava aos outros, o que para si precisava.
Um verdadeiro altruísta.
O Rodrigo, ostentava uma grande revolta pelo degradante ambiente familiar, com o qual coabitava.
Uma família desarticulada, com graves problemas de alcoolismo.
Na escola, transbordava toda a sua raiva de uma vida vestida de madrasta.
Era considerado um aluno altamente problemático, e conflituoso.
São os rótulos fáceis de aplicar em avaliações e julgamentos feitos em gabinete, ignorando a origem do problema.
Ele tentava fintar a amargura, que lhe corroía a alma, com um sorriso terno e doce, que imanava do seu rosto, onde 3 sardas se evidenciavam.
Criança, irreverente e traquina, eram atributos perfeitamente normais para a sua tenra idade.
Estava pelos 7 anos, um curto caminho, mas repleto de sofrimento.
O fator proximidade, fazia de mim uma testemunha da sua execrável realidade familiar.
Dessa forma eu era das poucas pessoas por quem ele nutria simpatia, laços que o tempo transformou em amizade.
Era na minha casa que lhe saciava a fome, e lhe dispensava a atenção e o respeito a que uma criança tem direito.
Foi num fim de tarde pardacento do mês de novembro, que sentados nos degraus de acesso ao alpendre de minha casa, desfiamos esta conversa.
O Rodrigo, implorava, através de um olhar triste e distante, que lhe dessem a oportunidade de ser feliz.
De sentir o calor de um carinho, e que acreditassem nele.
Recordo algumas questões que me colocava.

O que é preciso fazer para ser feliz?

Os pobres também podem ser felizes?
A que idade chega a felicidade?


Estava espelhada a vontade sôfrega de encontrar algo que lhe parecia inatingível, e que os seus 7 anos de idade estavam famintos.
A felicidade.
O azul dos seus olhos, tornava-se ainda mais explícito.
Fitando-me, perguntou.

Estou-te a aborrecer com as minhas perguntas, não é?


Não, claro que não Rodrigo.
Eu não podia ser mais um, a defraudá-lo, nas suas espectativas.
A felicidade, é como uma semente que lançamos à terra, para germinar, crescer, e colher o fruto.


Então a nossa amizade também é uma dessas sementes?

Sim, claro que sim.

Então é por isso que quando estou junto de ti, me sinto feliz?

Sim, é exatamente isso. A felicidade tens que ser tu a construi-la, e a procura-la nas coisas boas que a vida nos oferece.

Pois, mas eu sou mau!
Na escola até já me disseram que devo ser filho do diabo!


Rodrigo, todas as pessoas nascem boas.
Olha, para aquele eucalipto!
Do seu tronco nascem vários ramos, que se multiplicam.

Sim e?

Imagina que é a estrada principal da vida.
Depois temos os atalhos, cabe-nos saber tomar a direção certa.

É por isso que as pessoas dizem, quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos?

Nem mais, é isso mesmo.

Devemos optar sempre pelo caminho da verdade, justiça, e humildade.

Ajudas-me a encontrá-lo?

Sim, é o meu dever, como teu amigo que sou.
O tempo foi passando, e o Rodrigo procurava em mim o alicerce que familiarmente não tinha.
Lembro um desabafo que de forma espontânea fez.

Tu é que podias ser o meu Pai!
Nós devia-nos poder escolher os nossos Pais.
Mas não pode ser pois não?


Não Rodrigo.
Mas podemos fazer bons amigos, que nos podem ajudar a enfrentar os problemas e desafios que a vida nos impõe.

Como um jogo de futebol, que umas vezes ganhamos, outras perdemos?


Exatamente.
Sabes Rodrigo, é tão glorioso saber ganhar, como é ainda mais saber perder.
Um verdadeiro campeão vê-se na derrota.

Mas então para sermos felizes, temos que sofrer?

Inevitavelmente sim.
Mas acredita, que o sabor da vitória quando chega sobre algo de muito difícil, dá-nos mais força, mais alento para o futuro.

Olha, sabes uma coisa?

Diz.


Eu vou fazer 8 anos na próxima quinta-feira.


Ó, e achas que eu me ia esquecer disso?
Claro que não Rodrigo.
Que presente gostavas de receber?

Uma mochila carregada de felicidade.


Ok, vamos ver o que se arranja.


No outro dia que fui a vila, vi uma muito fixe, era da nike.
Mas o meu Pai disse-me, que se eu lhe falasse em comprar um garrafão de vinho, é que falava bem ameaçando-me com um estalo.
Eu quero crescer rapidamente para sair de casa, levo a minha mãe comigo.
Se não fosse a tua amizade, já nem sei o que tinha feito.

Havia dias em que o Rodrigo, recorria a mim, para jantar e até mesmo dormir, fugindo do quadro de terror que vivia em casa.

Para dormir mais aconchegado, enrolava uma mantinha, que colocava na cama ao seu lado.
Habituou-se de tal forma a este ritual, que ainda hoje o preserva.
Aqui está a origem do nome deste blog.

Sabes, por vezes vou até ao rio, e choro sozinho, por não ser igual aos outros meninos da minha escola.
Eles gozam-me pelas tristes figuras que o meu Pai faz quando está bêbado.
Vamos ter uma festa de natal, eu vou participar, numa peça de teatro, mas já sei que não vou ter os meus Pais a ver-me.

Eu estarei presente Rodrigo.


Tu vais?


Claro que sim, ia lá eu perder uma peça de teatro onde o meu amigo vai participar!
Estarei lá, e na fila da frente.
Vi lágrimas nos seus olhitos, desgastados pelo sofrimento.

Poço d’arte um abraço forte?


Então porque não o havias de poder fazê-lo!

Gostava de combinar contigo um segredo, mas tenho medo que fiques zangado!

Diz lá.


Quando estiver contigo poço chamar-te de Pai?


Se isso contribuir para a tua felicidade, claro que podes.
Eu irei continuar a ter a mesma postura que tenho tido até aqui.
Ser teu amigo.
Levantou-se num ápice olhou-me nos olhos abriu os braços como se fosse abraçar o mundo, e selou ali a nossa já grande mas agora reforçada amizade.
Porque entre mim e ele, agora eramos Pai e Filho.
No dia do seu aniversário, presenteei-o com a tão sonhada e desejada mochila.
Foi dos momentos mais emocionantes que vivi.
Aquela criança, a completar 8 anos, abraçou-me de maneira tão efusiva, agradecendo-me, tudo isto alagado num mar de lágrimas de felicidade, ao qual eu não consegui ficar indiferente.
Depois, de digerir-mos aquele momento, arranquei-lhe um sorriso supra encantador, quando lhe disse.
Rodrigo, afinal já tens a mochila, que tanto querias, e ela veio cheia de felicidade, como tinhas pedido!
Ainda com a voz trémula respondeu.

Obrigado Pai, por realizares este meu sonho!
Afinal ela existe!
Tudo vou fazer, para te retribuir, tornando-me um bom menino, e bom aluno.
Acreditas em mim não acreditas?

É obvio que sim, és o meu campeão.


Vais-te orgulhar muito de mim!

Assim é que se fala!
Como vez, a vida não é feita só de tristezas!
Quero-te agradecer este dia Rodrigo, já que a tua felicidade é recíproca.
Ofereceste-me um dia que guardarei para sempre no álbum da minha memória.
Afinal é tão fácil e simples fazer uma criança feliz!
OBRIGADO RODRIGO.

ADORO-TE PAI!!!

 






DIOGO_MAR
 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ADEUS INDY



Hoje Estou agastado.
Tive de tomar uma decisão extremamente difícil.
Pôr ponto final a vida do meu cão.
Uma viagem sem regresso.
O nosso amigo de 17 anos, entrou numa fase terminal da sua vida.
A dedicação a tempo inteiro que sempre teve pela minha família, assente numa plena reciprocidade, fez-me cair num impasse, quanto a prática da eutanásia.
Os berros lancinantes de dor, junto a enormes hemorragias, pintaram de sangue este dia.
Derramamos lágrimas de dor e pesar sobre o seu corpo.
Explicitando todo o amor e carino e respeito pelo seu imenso sofrimento.
O meu Cão (INDY) partiu, levou com ele os momentos de tanta alegria que sempre estava desposto a partilhar connosco.
Senti-me na obrigação de não perlongar mais o seu sofrimento.
Foi muito difícil.
Hoje uma injeção, pôs cobro a sua vida.
Adormeceu para sempre.
A casa ficou gelada e mais vazia, perdeu muito do bulício que ele nos obrigava a ter, com as suas corridas e traquinices.
Faltam os seus saltos, o latir, as lambedelas de carinho, que sempre tinha para dar.
Foste até ao fim, fiel, inteligente, e amigo, de uma dedicação inigualável.
Agora Indy, já não te poço mandar para o castigo quando te portavas mal.
Colocava-se de pé, com as patas traseiras no chão, e as dianteiras na parede, como se de uma criança se trata-se.
Já não apanhas as molas da roupa quando caíam, para nos entregar há mão.
Já não nos provocas para uma boa brincadeira.
Agora já não sinto a macieza do teu pêlo.
Deixaste-nos, meu campeão, que até hora da despedida, tinhas um olhar, terno e doce.
Vou ficar por aqui, já que lágrimas atrevidas teimam em fugir.
Já temos saudades tuas meu amigo Indy.
Vais estar sempre bem vivo nas nossas memórias.
Tu não passavas sem nós, mas agora vamos aprender a viver separados, porque a vida não se compadece com a morte.
Estas linhas sofridas, que estou a escrever, tem como intuito desabafar e soltar o nó, que sinto na garganta.
Neste mundo do salve-se quem poder, uma verdadeira selva, faz-me dizer:
Quanto mais conheço o homem, no sentido lato, mais gosto dos animais.
ATÉ SEMPRE INDY.


DIOGO_MAR

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O SABOR DO TEMPO



Guardo bem presentes, os dias que passava em casa da minha Avó.
Um palco recheado de histórias de uma vida, da qual eu era um herdeiro direto.
Debruçada sobre a aldeia, gozava de uma paisagem sublime.
Gostava de ao acordar, acercar-me da janela, abrir as portadas de madeira, preguiçar e soltar o bocejo matinal, esfregar os olhos ofuscados pelo sol, e contemplar todo aquele quadro de uma blesa inigualável.
A aldeia parecia carregar-me aos ombros.
Via todo o casario, e o caminho em terra batida que o serpenteava.
Lá ia o carro de bois,  com o seu imponente jugo, era audível o som característico que imitia.
Guiado por um homem, de rosto castigado pelo tempo, vestia uma samarra, levando na cabeça um chapéu de palha, com largas abas, munido do aguilhão que usava para reprender o gado.
O vento trazia até mim, a sua voz de comando para os animais.
Mais ao fundo o campanário, com o relógio que de quinze, em quinze minutos quebrava o silêncio daquelas paragens, com um som roufenho.
A perder de vista o rio, onde estava a velha barcaça de transportar os animais para a outra margem.
O fumo libertado pelas chaminés, fazia um bailado com o vento, seria ele o seu par?
As minhas narinas eram inundadas pelo cheiro a café e a torradas.
Mas o maior encanto era o perfume que a lenha libertava.
Bom, o próximo passo, era fazer a oração, ao anjo da guarda, esculpido na madeira da caixa de música, onde tinha um cordel que puxava para escutar a melodia que embalava o meu sono, e me projetava até as estrelas.
Ela estava sobre a cabeceira da minha cama de ferro trabalhado, onde me joelhava de mãos unidas dizendo:
(meu menino Jesus, dá-me a tua mão, que eu sou pequenino, poço cair ao chão)
(Anjo da guarda, minha companhia, guardai a minha alma de noite e de dia).
Pós este ritual BI diário, que a minha Avó me havia ensinado, afagava com um olhar, os móveis em castanho, com tampos em mármore.
Ao centro da cómuda,estava pousada uma imagem de nossa senhora de Fátima, e o retrato do meu Avô.
A um dos cantos, um lavatório em esmalte, agora tornado adorno.
Uma bacia, que encaixava numa estrutura de ferro, sob ela estava um jarro e um balde.
A minha Avó, cuidava do meu quarto, com o muito amor e carinho, que fazia questão de me presentear.
Assolhava as roupas da minha cama, deixando-as com um cheirinho a sol, eliminando dessa forma os vestígios do odor a naftalina.
Nunca esquecendo de colocar a minha mantinha dobrada em quatro, pousada na minha travesseira bordada pelas suas mãos cheias de mundo.
Do mobiliário, aos adornos, tudo transpirava capítulos de um álbum do tempo, que agora pareciam estar expostos numa galeria de arte antiga.
O cheiro a cera, que imanava o soalho dava um toque de frescura, a uma casa onde eu me sentia feliz.
O tique taque do relógio de parede, marcava a cadência de uma espiral de momentos calibrados pela poeira dos anos.
O fio do tempo, era como se fosse uma teia tricotada, por sacrifícios, bordados de lágrimas suor e sorrisos, a que as suas rugas, e o seu xaile davam uma textura imensamente doce.
Ali os anos estavam encaixilhados num quadro de memórias, aos quais, o tempo e o relógio eram indiferentes.
Ao canto da sala, morava um cadeirão de madeira imponente, todo torneado e lavrado que me dizia, que estavam ali guardadas leituras de obras ancestrais, de páginas já amareladas, e com cheiro a papel velho que os anos castigaram.
Era onde o meu Avô gostava de repousar o corpo, e os olhos sobre uma vida que a velha estante encerrava.
Agora que ele tinha partido, levando com ele uma larga cota da alegria da minha Avó.
Ela gostava de me olhar sentado no velho cadeirão, eu reparava, que no seu olhar bem explícito, cintilava, um misto de nostalgia, e de orgulho por eu estar ali.
Certamente lhe trazia a lembrança o meu Avô.
Eu carregava aos ombros tão pesada, mas tão enriquecedora herança.
No centro, uma longa mesa que se enche pelo natal, com uma toalha toda feita em renda, pelas mãos mágicas e noites mal dormidas, daquela mulher de beleza única, e um autêntico baluarte da estrutura familiar.
A lareira transmitia um calor melancólico, mas muito aconchegante.
Sentados num velho escano, íamos debruando as palavras em torno de peripécias vividas em épocas bem distintas.
Ao lume lá estava sempre o pote, onde era confecionada a sopa mais maravilhosa, que eu havia comido.
Pousados num guarda-loiça, uma verdadeira coleção de compotas que a minha Avó também sabia dar corpo, e que me presenteava nas minhas idas a sua casa.
Aquele olhar carregado de ternura e cheio de ânsia por fazer mais, e ainda mais, testemunhavam o quanto ela sabia ser uma boa anfitriã.
O silêncio era rompido pelo crepitar da lenha, a contra passo das batidas do velho relógio, que teimosamente persistia em evidenciar, o ritmo de uma casa, cúmplice da calmaria.
Os retratos de família, juntavam-se a uma imensa coleção de utensílios, caídos em desuso.
Uma máquina de cozinhar e um candeeiro a petróleo, uma candeia, de azeite, a juntar a vários adornos de porcelana e os candelabros rendilhados, emprestavam um ambiente muito próprio a casa da minha Avó.
Era um verdadeiro álbum infindável de conhecimento, e experiencias, que me ajudavam a crescer, e valorizar a vida, que transpirava história por todos os poros.
Na hora da despedida, havia sempre um ritual que eu a acostumei.
Junto a porta de saída, num bengaleiro estavam a bengala e o chapéu do meu Avô.
Eu colocava-o na cabeça, e pegava naquela que foi a sua segunda companheira.
Arrancava um belo sorriso, envolto em nostalgia, a um rosto cheio de candura.

Fica-te bem Diogo!
Gracejava a minha Avó.
Ela era um monumento vivo, de experiencias de vida que eu também ir dei.
A riqueza de uma família reside no testemunho que atravessa gerações.
Como de um caminho se tratasse, que serpenteava as nossas vidas, numa escola onde as lições ficam sempre incompletas.
Ou não fosse a vida uma escola, que todos frequentamos, onde o mestre é o tempo!


DIOGO_MAR

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

HISTÓRIA SEM IDADE


Foi numa tarde pardacenta, de verdadeiro ócio, que nada nos apetece fazer, que despoletou em mim a vontade de ir até ao meu velho sotam.
Tinha espreitado pela janela do meu quarto, e constatei do frio que estava lá fora, de mão dada com um céu toldado de nuvens.
Vesti um fato de treino, de resto é a indumentária que mais gosto de trazer por casa.
Corri a tampa, era como se estivesse a abrir a janela do tempo, onde estão guardados anos de múltiplas vivências.
Mal esta deslisou, as minhas narinas foram inundadas por pó, e um cheiro marcante a mofo.
Depois de uma série de espilros, lá continuei a minha cruzada de remover pó e algumas teias de aranha, que pareciam ter feito uma barreira protetora as minhas recordações.
Ali estava ao canto o meu velho cavalinho de madeira, que já teve honras de um poema aqui neste blog.
Abria cada caixa como se fosse uma prenda acabada de receber.
Era uma verdadeira incógnita o que lá estaria dentro.
Até o frenesim de abrir as caixas me faziam voltar aos tempos de criança, faminta de saciar a minha curiosidade.
A primeira estava cheia de carros de coleção, alguns já oxidados pelo tempo.
Eles foram os meus campeões em corridas que fazia com os meus amigos.
O meu preferido era um carro vermelho que de tanto uso estava descolorado.
Olhei durante alguns minutos rebobinando o filme da minha memória.
Filo deslisar no chão do sótão.
Estava lento, tinha perdido o fulgor de outros tempos.
Tirei os para fora da caixa, um a um, como se de um livro se trata-se, e até era mesmo isso, um livro repleto de memórias de tempos longincos mas que eu gostava de reviver, folheando página a página, com uma docilidade ternurenta.
Estava a conquista das minhas origens.
Não tinha reparado que bem lá no fundo estava uma cobra e uma tarântula de borracha que faziam as minhas delícias para assustar as pessoas pelo carnaval.
Ups!
Desta vez quem se assustou fui eu!
Logo eu, que detesto répteis.
Esfreguei os braços já que tinha ficado com pele de galinha, voltei a Metela no sítio de onde tinha saído.
Ainda recordo do grande susto que preguei a Miquinhas padeira, quando lhe pendurei no puxador da porta a cobra.
Brincadeira que me custou uma bofetada da minha mãe, e um castigo, já que a senhora sentiu-se mal, chegando mesmo a desmaiar.
Abri a segunda caixa.
Estava cheia de animais que vinham no interior de uma marca de detergente em pó para lavar roupa.
Bom, tanta bicharada que dava certamente para fazer um jardim zoológico completo.
Libertei os todos.
Agora estava rodeado por carros e animais.
Reparei nos cavalos que punha ao serviço dos guardas do castelo, que fazia em lego.
Fui para a terceira caixa, era a maior de todas, tinha vindo lá dentro a máquina de lavar roupa.
Abri as tampas, carregadas de pó, la vieram mais meia dúzia de espilros.
Atchim!
Acho que por este andar vou sair daqui sem nariz.
Soltei uma gargalhada, ao deparar-me com a minha primeira mochila, tinha estampado o Marco.
Contemplei a durante alguns instantes.
Tinha transportado nela muito daquilo que hoje sei.
Foi o primeiro degrau de uma longa escadaria, de aprendizagem e claro conhecimento.
Apoderou-se de mim uma nostalgia revestida de um misto de alegria e de saudade.
Foi como se o relógio parasse.
Vasculhei toda a caixa, numa verdadeira ânsia de ver as histórias, que ali estavam guardadas.
Fisgas, bolas, pião, cubo mágico, ioiô berlindes, lego, carros telecomandados e uma velha locomotiva.
Seria ela a máquina do tempo, de uma viagem que eu era o maquinista?
Mas esta panóplia de recordações não se ficava por aqui.
Os meus jogos, do micado, o sabichão, o monopólio, batalha naval.
Eis que surgem as barbatanas os óculos e as boias de levar para a praia.
Dentro da minha velha e gasta mochila, lá encontrei as minhas cadernetas de cromos que folheei lentamente como se estivesse a venerar os meus heróis.
No o meu estojo, ainda morava um lápis a minha aguça, a borracha e os cromos repetidos.
Sem dar por isso, estava uma tarde passada, e bem passada.
Dei início a tarefa de recolocar, todo aquele passado mas que está bem presente, nas caixas de onde tinham saído.
Tinha dado corpo, a uma cúmplice aliança, com tempos idos, mas que fazem parte do meu eu, e que gosto de reviver.

 

 DIOGO_MAR

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

CARRINHO DE ROLAMENTOS



O meu carrinho de rolamentos
Corrida desenfreada de tantos sentimentos.

 
Rolamentos pregos corda e madeira
Eram os acessórios para tão efusiva brincadeira.

 
Corre voa, meu carrinho de rolamentos
Amigo de partilha de tão agradáveis momentos

 
Eras o número 7 veloz como uma seta
Inundavas-me o rosto de felicidade, quando eras o primeiro a cortar a meta!

 
Batizei-te com o nome de arco-íris
Meu campeão de tantas emoções
Foste o brinquedo preferido de tantas gerações.

 
No caminho do monte, ou na rua da aldeia
Corrias contra o tempo
Fazendo daquele instante uma verdadeira epopeia.

 
Sem pista nem mapa de navegação
Meu carrinho de rolamentos era a fonte de toda a minha ilusão!

 

 DIOGO_MAR

sexta-feira, 28 de junho de 2013

VIVÊNCIAS DA MINHA ALDEIA



Estava eu pelos meus 14 anos, idade essa que se permite ter todos os sonhos e fantasias.
Depois crescemos, e constatamos que não é bem como nós alicerçamos os nossos projetos.
Como de um quadro se tratasse, que pintávamos com tons vivos e coloridos, mas com o decorrer do tempo, ia adquirindo alguns sombreados.
Eram as fintas e rasteiras da nossa vivência.
Processo por vezes doloroso, mas que nos faz amadurecer.
Vivíamos nessa fasquia entre os 12 e os 15 anos.
Ou seja: os mais novos do grupo eram o Rodrigo e o Daniel
Pelo meio estava eu e o André
O mais velho era o Rafael.
Olhando a proximidade das nossas idades, padecíamos dos mesmos problemas e ânsias, da adolescência.
Acalentávamos um futuro desenhado e projetado por nós.
Que idade tão bonita.
Idade de saborear todas as travessuras, e sentirmo-nos os verdadeiros campeões os donos do mundo.
Tempo das primeiras namoradas, dos amores inocentes, como se de um filme se tratasse, onde desempenhávamos o papel de atores principais.
Ainda não se tinham banalizado, princípios morais e éticos.
Os patamares da vida tinham outro encanto.
A par de tudo isto, os nossos Pais iam-nos incutindo o sentido de responsabilidade, através das tarefas pelas quais nos incumbiam.
Claro está que os padrões de educação eram algo diferentes, os melhores que os nossos progenitores achavam para nós.
Como pássaros livres, nós também vivíamos em perfeita harmonia com a natureza.
Sabíamos respeitá-la, mesmo porque tínhamos a consciência que dela dependíamos.
O amanho da terra, as sementeiras, as colheitas o cuidar dos animais.
Tudo isto eram tarefas às quais dedicávamos parte do nosso tempo.
Era um orgulho ver os campos asseados, como se fossem os jardins da nossa aldeia.
Os animais bem tratados, transpirando saúde.
Eles a seu tempo iam entrar na nossa cadeia alimentar.
A lei justa da sobrevivência.
Embora eu tivesse alguma relutância quanto a isso, já que havia animais pelos cuais ganhava afeição.
E não aceitava muito bem a sua morte.
Principalmente os coelhos.
Isto já não se aplicava aos perus e as galinhas, que achava animais estúpidos e pasmacentos.
Sempre que se procedia à morte de animais lá em casa, ou na aldeia eu nunca ia assistir.
Os meus Pais respeitavam essa minha vontade, e nunca me forçavam a ver tal tarefa.
Os meus amigos gozavam comigo, e com o André que partilhava da mesma atitude.
Por alturas da matança do porco, a família do Rafa convidava-nos para esse ritual.

Então Diogo, não vens?
Espicaçava-me ele, num tom provocatório, sabendo da minha resposta.

Olha Rafa, vai dar uma volta, bem sabes que não.

Pois, mas depois gostas de comer os rojões! Lol.
Mas logo se apressou a dizer:

Estou na brincadeira contigo Diogo.
Nós sabemos bem que tu e o André não gostam de ver matar.
Não fosse eu levar aquele comentário assério, e rejeitar o convite.

Depois vão lá ter para o almoço ok?

Sim, depois eu e o André vamos la ter.
Rafael: Poço convidar o Rodrigo?

Sim, claro que sim, a questão é que o Pai dele deixe.

Sendo a pedido do meu Pai, ele não se atreve a negar.
O Armando era um personagem bastante problemático, já contava no seu curriculum com uma passagem pela prisão.
Mas o Rodrigo era afilhado dos meus Pais, pessoas a quem o Armando respeitava e temia.
Já que o meu Pai o reprendia pelos maus tratos que infligia à família.
Não admitia essa postura animalesca da parte do Pai do Rodrigo.
E pairava no horizonte a possibilidade dos meus Pais, requererem a guarda dele fazendo valer a posição de Padrinhos.
Situação que me agradava imenso, já que ganhava o irmão que não tinha.
O Armando, não nutria grande simpatia por mim, porque eu o afrontava, em defesa Do Rodrigo.
As suas ideias ditatoriais passavam-me ao lado, eu sabia rebatê-las.
Não tardou, e os gritos lancinantes do suíno ecoavam pela aldeia.
Eu punha o som da música mais alto para abafar aquele estridente ruido.
Depois dessa fase traumática para mim, já podia por pés ao caminho para ir chamar o Rodrigo.
Acompanhado pelo André lá fomos enfrentar aquela figura austera e rude que era o Armando.

O que querem?

Primeiro, bom dia.
Fica bem dizer-se.
Segundo, venho chamar o Rodrigo para ir almoçar connosco a casa do Rafael, estão lá todos, e os meus Pais fazem gosto que ele vá.
De forma grosseira, lá chamou o filho.
O Rodrigo acercou-se do portão.

Vais, mas não te quero aqui tarde.
Estás a ouvir pá?

Também não vamos comer apressadamente para ele vir para casa, é falta de educação sair da mesa antes que todos acabem de almoçar.
Bem como, não se vai a casa de ninguém só para comer e logo sair.
São regras de boa educação que os meus Pais me ensinaram, e claro está, também querem que o afilhado tenha.

Isto não pode ser assim Diogo.

Bom, isso é um assunto que você deve falar com o meu Pai.
Ele enquanto está na nossa companhia está bem, ao contrário daquilo que você acha.
Há, e está feliz.
O Rodrigo tal como eu e todos, tem direito a felicidade.
Não acha?

Bom, vamos ficar por aqui, respondeu o Pai do Rodri já com um semblante carregado.
Senti que tinha vontade de descarregar a sua fúria em cima de mim, mas nem se atrevia a tal.
O Rodrigo dava-me toques em sinal para eu me calar, tendo medo que eu ao entrar em despique com o Pai, hipotecasse a ida dele ao almoço.
Mas eu que sempre fui e sou de fortes convicções, não me deixava amedrontar pelo tom ríspido e intimidatório do Armando.
Para mim, antes quebrar que torcer.
Com a minha razão ninguém me cala.
Dobramos a esquina da rua, e o Rodrigo logo esboçou um sorriso que lhe inundou o rosto, contrastando com o azulado dos seus olhos.
Parecia ter ganho um uma nova vida.
Era sempre assim, quando eu o arrancava de casa.

Obrigado Diogo, só tu para me libertares.
Para mim, não há nada que pague a felicidade de alguém de que gostamos muito.
Era esse o caso, o Rodri era um irmão.
Agora já em casa do Rafa, com um forte cheiro a rojões e a sarrabulho, e com toda aquela gente, vivia-se um ambiente de alegria pura, e contagiante.
Deram-nos as boas vindas, e ficaram felizes ao verem o Rodrigo.
O Avô do André, levou um acordeão, o meu Pai pegou no cavaquinho, o Pai do Rafael nos ferrinhos.
Estava montado o cenário para uma tarde de convívio, que cada escalão etário aproveitava da melhor forma.
Foi festa rija até a noite.
Bem a moda do Alto-Douro.

 
DIOGO_MAR




quarta-feira, 19 de junho de 2013

O AVESSO DO MUNDO



A Pátria que me pariu
Terra de esperança
Sorriso espontâneo no rosto de uma criança.

 
Criança que abraçava o universo
Inocência e verdade, que ocultavam o lado perverso.
 

Espelho de um mundo injusto, construído pelo meu semelhante
Acorda e abandona, esse caminho errante.

 
Desigualdade injustiça é essa a tua lei
Esmagas a plebe, em nome do rei.

 
Ó déspota que vives obcecado pelos bens materiais
Adulteraste e esqueceste os teus princípios ancestrais.

 
Pobre homem de ambição desenfreada
Sonhaste com uma mão cheia de tudo
Sobra-te uma mão cheia de nada!

 
Foi este o caminho que traçaste para o teu destino
Agora já só ecoam as vozes do mais triste hino.

 
Ó aldeia global
Alimentas o esclavagismo social
Rolam lágrimas de fome, miséria e descrença neste meu Portugal!

 

DIOGO_MAR

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O MEU PIÃO


Olá pião
Tantas vezes dançaste na minha mão.

 
Mão hábil e certeira
Lançamento perfeito para a brincadeira.

 
Brincadeira inocente e colorida
Olho para ti, recordando esse patamar da minha vida.

 
Vida de criança pura e verdadeira
Tantas vezes foste meu companheiro de algibeira.

 
Algibeira carregada de esperança
Exibias felicidade contagiante na tua dança.

 
Uma dança por vezes desengonçada
Tombavas, deixando em mim uma mão cheia de nada.

 
Um nada, que aprendi a contrariar
Gira meu pião
Ensina-me acreditar!

 
Acreditar no tempo vindouro
Pula, gira dança
Para sempre, serás o meu pião de ouro.

 
Pião de ouro preso a mim pelo baraço
Jamais esquecerei os momentos que juntos passamos meu amigalhaço.

 
Amigalhaço de uma vida de brincadeira
Agora ocupas lugar de destaque na prateleira.

 
Prateleira da estante de recordações
Gira dança meu pião
Eu canto para ti uma das tuas canções!

 
(Eu tenho um pião, um pião que dança
Eu tenho um pião mas não to dou não.

 
Gira, que gira o meu pião, mas eu não to dou nem por um tostão

 
Eu tenho um pião, um pião que dança
Eu tenho um pião mas não to dou não.)

 

 DIOGO_MAR

sexta-feira, 7 de junho de 2013

UM DIA NA FEIRA



Um dos meus roteiros preferidos, era ir a feira com os meus Pais.
Eu gostava de respirar aquele ar, carregado de múltiplos aromas.
A juntar a tudo isto, toda a variedade de produtos, e todo o colorido e pregões que se ouviam, emprestava aquele local, uma grande singularidade.
Era o ponto de encontro de gerações, e de muita gente oriunda de várias paragens do concelho, e de todos os estratos sociais.
Nós já conhecíamos os feirantes, e os artigos que vendiam.
Claro está que eu tinha uma grande preferência pela dona Carlota, que vendia uns doces caseiros maravilhosos.
Era uma personagem pitoresca.
Além de muito simpática, e que nutria por mim um carinho muito especial, vá-se lá saber porquê!
Era dotada de um bigode que fazia inveja a muitos homens.
Eu que nunca fui dado a beijos, naquele momento sentia-me feliz por tal facto, pois não gostaria nada de me sentir beijado por uma boca encaixilhada em tão másculo bigode.

Ó meu amor, estou a meter dois bolinhos a mais para comeres na viagem.


Não o estrague com mimos dona Carlota, disse a minha Mãe sorrindo.


A, agora.
Uma coisa tão bonita tem de ser mimada.
Só é pena que seja por uma velhota.
Não é Diogo?


Comecei a corar, e sorrindo agradeci-lhe.


De nada meu amor, dei porque quis.
Voltem sempre, gosto de saber que estão bem.


Seguimos viajem, já a lambuzar-me com um daqueles bolos deliciosos.
Os meus Pais olhavam para mim e riam.
O que foi?

Diogo, limpa a boca e o nariz. Já tens farinha do bolo por todo o lado.


Comia com tanto entusiasmo, que o meu Pai gracejou dizendo:


Até parece que não comes há 15 dias!


Pois, mas o que é doce nunca amargou, não é filho?

Respondeu-lhe a minha Mãe.
Íamos caminhando a desfrutar de toda aquela panóplia de produtos, cheiros e pregões.


Ó freguesia, olhem calças, é pró menino, e prá menina!
Ó riqueza, não quer calças para o menino?
São da moda!
Olha que calças bonitas meu amor!
Não gostas?
Tenho mais modelos!
E são de marca!


Não, obrigado não quero.

Hoje não, acrescentou a minha Mãe.

Achava piada ao tratamento dos feirantes para com os clientes.
Ó riqueza, ou ó meu amor.
As vozes misturavam-se com o megafone do Sr. Augusto que leiloava jogos de cama, e atoalhados.

Quem dá mais?
É a última oportunidade.
Ninguém dá mais?
Fica para aquele cavalheiro.

Depois tínhamos a banca do Sr. Jorge que vendia cassetes e cds com os sucessos recentes.

Olhe!
Ó senhor!
Bote a tocar o Quim Barreiros!
Sugeria uma transeunte.

Era um barulho diversificado, mas ao mesmo tempo agradável, pela beleza que emprestava ao recinto da feira.
Naqueles dias a vila ganhava outra vida, tinha um bulício que em circunstâncias normais não acontecia.
Estávamos nós a passar junto dos vendedores de galinhas, quando uma delas fugiu, esvoaçou, assustando uma senhora, que por sua vez, me abalroou.
Quase me deitava por terra.
Agrediu-me com os seus longos e avantajados seios.

Magoei-te?

Não!

Desculpa meu amor!
Diabos levem a galinha!


Não faz mal, disse eu, a recompor-me daquele episódio.

Olhei para os meus Pais que disfarçadamente riam, a bom rir, principalmente o meu Pai.
Tem uma piada?
O meu desabafo ainda lhe estimulou mais as gargalhadas.

Deixa lá filho, já passou, dizia a minha Mãe, ao ver-me com uma expressão de aborrecido, e envergonhado.

Aqueles personagens de aventais coloridos e a irradiar alegria exerciam sobre nós um verdadeiro contágio, ao qual não podíamos ficar indiferentes.
Os meus Pais lá foram comprando os artigos que precisavam, cujos preços fossem convidativos.
Eles sabiam regatear com os vendedores o custo dos produtos que pretendiam adquirir.
Principalmente a minha Mãe que esgrimia todos os argumentos para poder comprar o mais barato possível.
Estava ali bem patente o instinto de dona de casa, saber gerir é uma virtude, e a minha Mãe tem-na.
Entre saudações do meu Pai, a várias pessoas, já que era bastante conhecido na vila, bem como a minha Mãe, eu, também ia encontrando colegas de escola, e até mesmo professores e funcionários.
A feira, não há dúvida, que mais se assemelha a uma peça de teatro, onde os atores são os vendedores, e nós os figurantes.
É um local de convívio entre todos, e de alegria, assente na mais perfeita reciprocidade de quem vende, e de quem compra!
 
DIOGO_MAR