domingo, 27 de janeiro de 2013

RETRATOS DA MINHA ALDEIA


 
Estávamos na última semana de Dezembro.
Já reinava o inverno.
O frio apertava e aquele vento agreste castigava-nos as mãos e a cara.
Era um senário perfeitamente normal para a época nesta pequena aldeia do douro vinhateiro.
Vim até ao largo da minha aldeia onde era ponto de encontro de escalões etários totalmente opostos.
Os mais velhos a jogar cartas numa mesa que eles próprios improvisaram.
Batiam com os nozes dos dedos no tampo em sinal de convicção na jogada que estavam a fazer.
Dizia o Luís cocho.
Que tinha perdido a parte inferior da perna direita num acidente de mota.

Eu corto.
Essa é minha!

Nem querias mais nada! Retorqui-lhe o Sr. Bernardino, com voz firme.
Eu recorto.
Não esperavas esta, pois não?
AhAhAh!

Aqueles personagens com chapéus de aba larga e Os rostos encarquilhados pelas marcas do tempo, mas que são autênticas enciclopédias de sabedoria.
Alguns deles tinham laços familiares aos meus amigos.
Caso do Sr. João Fonseca, avô do André. Um bom homem.
Jogavam de uma forma tão envolvente que nem davam pela nossa presença, ou estariam a ignorar-nos!
Por vezes não havia um relacionamento muito cordial, porque tínhamos alguma dificuldade em os compreender, bem como eles a nós.
Coisas do foço que o tempo tinha cavado.
Embora também reconheça que a nossa irreverencia por vezes era extravasada por alguns excessos.
Mas no fundo eles gostavam de nós.
Viam em nós a sua própria continuidade.
Embora com diferenças bastante acentuadas.
Eram épocas diferentes, mentalidades também diferentes.
O tal modernismo que eles criticavam, e que tinham alguma dificuldade em compreender.
Estávamos a romper com as tradições.
Os nossos cortes de cabelo mais arrojados e os penteados com o gel, fazendo por vezes colagens aos nossos craques da bola, arrancava-lhes sorrisos.
Enquanto sacudiam o pó das cartas, tal como diziam, Uns metros a frente, nós puxamos do bolso os nossos berlindes coloridos e de vários tamanhos, e posemos em prática o nosso afinco no jogo.
Fazia-mos campeonatos de jogos de berlindes.
Era uma garrafa de coca-cola de litro e dois bolicaos, para o vencedor.
Rapidamente o largo da aldeia se tornava num local de convívio, entre gerações.
Emprestando-lhe um contraste muito agradável de ver.
Agora as nossas vozes misturavam-se com as dos velhos.
Só na linguagem vernácula que por vezes se ouvia, era-mos iguais.
Mais adiante as raparigas também davam largas a brincadeira.
Saltavam a macaca, e jogavam o jogo do lenço.
O nosso grupo, estava reduzido, já que o Daniel tinha ido passar o Natal a aldeia dos avós paternos.
Fiquei eu o Rafa o André e o Rodrigo.
Jogávamos com empenho e total entrega, tanta que até por vezes tinha-mos despiques um pouco acesos.
Eu, e o Rafael, colidíamos bastante nos jogos.
O Rafa tornava-se obcecado pela vitória, tinha mau perder.
Mal sabíamos, que a vida se iria encarregar de nos dar tantas vezes o sabor amargo da derrota.
Era uma tarde como tantas outras, em altura de férias escolares.
A aldeia adquiria a vida que lhe faltava nos dias em que estava-mos nas aulas.
Ao longe via-se a torre da igreja com o seu imponente sino.
Tínhamos feito uma venda de rifas, para angariar dinheiro para o seu restauro.
Era um verdadeiro talismã da aldeia.
A estreita e íngreme ruela que serpenteava o casario até chegar ao adro da igreja, emprestava à paisagem, um quadro bucólico.
Mas muito nosso.
O Sr. Jorge que tinha uma loja de eletrodomésticos na vila, ofereceu uma televisão para o primeiro prémio.
O Sr. António da mercearia deu um Presunto para o segundo prémio.
E a dona Georgina ofereceu do seu minimercado concorrente direto do Sr. António o terceiro prémio.
Um bacalhau e uma garrafa de azeite, e uma de vinho.
A tarefa até que não correu mal.
Vendemos na escola aos professores e a funcionários.
E até mesmo na vila no dia de feira.
Gozamos também da presença de alguns imigrantes que vieram cá passar as festas, dando um grande contributo financeiro para as obras se realizarem.
Agora já as nossas vozes tomavam conta do largo da aldeia, bem como ecoavam levadas pelo vento agreste, que varria aquelas paragens.
Era um belo momento de ócio que todas as idades estavam a viver.
Matar o tempo?
Antes que o tempo nos mate a nós!
Para não variar, eu e o Rafa, entramos em aceso despique verbal, pelo simples motivo de batota que ele estava a fazer.
Os meus Pais sempre me ensinaram a saber ser vencedor,
Mas também ser um bom perdedor.
Entre algumas palavras mais ásperas e insinuações, por parte do Rafael, eis que o Rodrigo toma a minha defesa.
Eu não queria isso, já que sabia que despoletava grande ciúme junto do Rafa.
E ele como mais velho não tinha problema em bater ao Ródri, tendo eu que moderar as partes.
Nunca aceitava que o Rafa batesse no Ródri.
Ele era para mim um amigo com um estatuto muito especial.
Era como o Irmão que eu não tinha.
Embora reconhecesse que todos nutriam por mim uma grande e forte amizade, sentia-me o elemento mais consensual, o elo mais forte.
Era-mos um grupo perfeito, dentro das nossas imperfeições como qualquer ser humano.
Vá! Parem lá com isso gritei eu com voz firme.

Esse palhaço arma-se e um destes dias não vais ter Diogo que te valha.
Vou-te partir essa boca toda.
Disse o Rafa.

O Ródri, com os seus 11 anos era muito revoltado pela vivência familiar que herdara.
Acho que só eu o conseguia persuadir das suas atitudes in tempestuosas que por vezes tinha.
Olhei-o fixamente nos olhos e ele soube o que lhe estava a pedir.
Calou-se sabendo que com essa atitude iria resfriar os ânimos.

Quando quiseres alguma coisa vem ter comigo sozinho.

Acrescentou o Rafa tentando provocar o Rodri, ganhando um pretexto para um confronto físico.
Então tive eu que tomar as rédeas do conflito.
Queres parar com isso Rafa?
Tu não tens nada que oferecer porrada ao Rodrigo.
Primeiro és mais velho 3 anos que ele.
E em segundo no dia que puseres a mão no Ródri vais ter que te haver comigo.
Sabes que eu tento ser justo.
Não dou razão a quem não a tenha, mas lembra-te que és mais velho, mas eu não te tenho medo.
O André que já estava cansado daquele diálogo, disse.

Fogo, parem lá com essas coisas.
Já chega, não acham?
Até parece que não somos amigos, e que não partilhamos os bons, e maus momentos de todos.
Vá, parem.

Foi uma atitude plena de sensatez, e uma grande e incontornável lição.
Afinal somos todos amigos.
Sem dar-mos por isso, já a tarde tinha empalidecido, e o sol já pouco ou nada aquecia.
Na torre da igreja caíam as cinco horas.
Misturavam-se com o som das badaladas o cantar dos galos e garnisés da Zulmirinha.
Estava na hora de ir-mos recolher a casa.
Ainda tinha que ir dar alimento aos animais.
Galinhas, Coelhos e os perus, que estava ansioso por os ver no forno, porque são maus e já me tinham feito algumas medalhas nos braços e mãos.
Levantei-me, e disse-lhes:
Bom está no ir.
São horas.
Vou lanchar e tratar dos animais, para quando os meus pais chegarem estar tudo em ordem, tal como me recomendaram.
Gosto de cumprir com as minhas obrigações.
Hoje ganhaste Rafa. Parabéns.
Mas tem lá calma, ainda faltam jogos.

Sim, eu sei Diogo.
Ainda faltam jogos para tu perderes AHAHAH!!!

Ou não, murmurou o Rodrigo.

O Rafael olhou-o de maneira fulminante. Levantou-lhe a mão, para concretizar os seus intentos.
Mas rapidamente coloquei cobro as intenções dele.
Segurei-lhe o braço com firmeza, e olhos nos olhos disse-lhe:

Ou paras de uma vez por todas com esse teu espirito agressivo.
Ou então deixas de ser meu amigo hoje aqui e agora.
Entendeste Rafa?
Mas entendeste mesmo?
Não vou repetir mais o que te disse.

Isto é uma vergonha! Disse o André que partilhava em muito a minha maneira de pensar e agir.
Além de fisicamente sermos tão parecidos, que diziam que eramos gémeos.
Fazia-mos uma diferença só de duas semanas de idade, estava-mos nos 13 anos.

Diogo, Mas ele?

Ele, tem nome. Chama-se Rodrigo.
Vive na mesma aldeia que tu, anda na mesma escola que tu, e faz parte do nosso grupo de amigos.
Entendes?
E mais uma coisa Rafa,
Se pensas que com essas atitudes te aproximas de mim, estas redondamente enganado.
Estás-te sim a afastar.
Chau Rafa, fica bem.
Virei costas, sem o cumprimentar.
Foi para o fazer sentir que estava magoado.
Mas pelo canto do olho vi a expressão de arrependimento que tinha no seu olhar.
O Rafa como qualquer outro do grupo tinha pavor de perder a minha confiança e naturalmente a minha amizade.
Convidei o André e o Ródri a virem lanchar comigo a minha casa.
O André não quis, o Ródri também disse que não queria, mas eu sabia que ele la no fundo estava com vontade de vir.
Bom André até mais logo.

Até, Diogo e Rodrigo, chau.

Ródri, vá, anda lá a minha casa lanchar.
Os olhos dele ficaram ainda mais azuis, e surrio.

Poço ir mesmo?

Claro que sim, de outra forma não te tinha feito o convite.
Bom, Bora lá.
Dirigimo-nos para minha casa, onde no jardim já estava o Dique a nossa espera.
Latia e estava com orelhas afitadas, a sua longa cauda agitava-se num movimento frenético, em sinal de satisfação e alegria por me verde volta.
Ele nutria uma grande empatia pelo Ródri, já que era uma visita assídua da minha casa.
Aliás, assim como todos do nosso grupo.
Por isso não tinha qualquer preocupação com o relacionamento do Dique com os meus amigos.
Ele sabia da nossa amizade e era muito cordial e simpático.
Era um cão bastante corpulento e forte raçado de Lobo da Alsácia, de olhos azulados, pelo acinzentado com umas orelhas grandes e uma longa cauda, muito bonito, e inteligente.
Claro está que tive de proferir algumas palavras de ordem para evitar as longas lambedelas e saltos de alegria por nos ver.
Ele bem que se lembra das nossas idas até ao rio com ele para dar uns bons mergulhos no verão.
É um grande e verdadeiro amigo, com quem partilho muitas brincadeiras e com quem falo.
Dique, aí!
Estás a ouvir!
Quieto!
Ele obedecia-me porque também já sabia que era sempre recompensado por isso.
Lá tinha um biscoito.
O Ródri não passava sem lhe fazer uma festa, e claro em troca lá vai uma lambedela.
Pousava as patas dianteiras nos nossos ombros, como se de um abraço se tratasse.
O meu cão faz parte da nossa família e porque não dizer, da nossa vida.
Era mais um agregado familiar lá em casa.
Finalmente já na cozinha preparamos o nosso lanche.
Ainda haviam vestígios de sobras de iguarias do Natal.
O que claro está, nos agradava imenso.
Depois de termos aconchegado o estômago, fomos tratar dos animais que já nos chamavam fazendo lembrar que estava na hora de comerem.
Eu dirigi-me ao galinheiro enquanto o Ródri foi tratar dos coelhos.
Depois tinha a tarefa mais complicada os perus.
Raios de animais parvos e maus.
Tinha de lhes dar comida sempre prevenido com um pau na mão esquerda, para qualquer investida.
Uma vez tive de recorrer a violência e desferi uma paulada certeira na cabeça do peru, que o deixei em coma durante uns minutos.
No momento fiquei preocupado, pensei que o tinha morto
Ia ser tarefa complicada de dizer aos meus Pais.
Mas se tivesse de ser, lá tinha que assumir as consequências do meu ato.
O que é certo ele não morreu e ainda durou mais uns tempos até o meu Pai lhe dar o merecido prémio, o forno.
Bom, sempre vos digo que me deu grande prazer espetar-lhe o dente.
Era a minha vez de me vingar dos ataques que por vezes me infligia.
Depois de termos concluído a tarefa, eis de regresso.
O Ródri começou a olhar varias vezes para o relógio, já que ele tinha de estar em casa antes que o Pai chegasse.

Diogo, desculpa mas sabes que por mim, ficava aqui mais tempo.
Ou até para sempre, mas tenho de ir embora, para não haver problemas.
E mesmo assim vamos ver como ele vai chegar.
Estou cansado desta vivência, de discussões e acreções lá em casa.
Um destes dias se a minha mãe não fizer queixa a polícia sou eu que o faço.
Aquilo é um monstro.
Ele é meu Pai, pena é que o seja só de nome.
Ser Pai, é ser como é o teu Diogo.
Tens muita sorte, e mereces ter um Pai assim.
Digo sorte porque não somos nós que escolhemos os nossos Pais.
Mas fogo, não temos que nascer para sofrer desta forma.
Um dia que seja Pai, vou dar tudo que eu nunca tive aos meus filhos.
Eles não pedem para nascer, logo eu só tenho de dar o meu melhor a eles.
Estou-te a dizer isto ati Diogo, porque és o meu melhor amigo.
Até te digo mais és um irmão.
Tens feito tudo por mim.

Acrescentou já com a voz trémula.

Nunca te vais arrepender disso, podes ter a certeza.

Ródri, não faço mais que a minha obrigação de teu amigo que sou.
Gosto de dar aos outros, preenche-me o coração.
Fico feliz ao ver que o meu contributo minimiza o sofrimento de alguém que é meu amigo.
Demos um forte e sentido aperto de mão, como que perpetua-se a nossa já longa e verdadeira amizade.

Até a manhã Diogo, e obrigado pela companhia, e pelo lanche.
A, e obrigado por seres meu amigo.

Vá, deixa-te lá disso Ródri.
A minha casa tem as portas abertas para os meus amigos.
Olha, já vais?
Não falta nada?

Não!
O quê?

Meti a mão ao bolso e tirei a chicla, a gorila.
Toma.

Obrigado Diogo!
Não estava a espera de nada.
E quero que saibas que a minha amizade por ti não é interesseira.
Por isso até te peço para não me dares nada.
Continuarás a ser o meu Irmão.
Mais uma vez obrigado Diogo.

Dirigiu-se para o portão acompanhado pelo dique a quem deu uma bolacha que tinha guardado do lanche.

Vá, toma lindo.

O Dique retribui-lhe com uma lambedela, agradecendo-lhe o gesto.

Tchau Diogo.

Tchau Rodri.
O seu paço era retraído, notava-se a ausência de vontade de ir para casa, pelas razões que bem conhecemos.
Eu, ficava triste por ficar sozinho Embora os meus Pais estivessem para chegar, e pelo sofrimento do Rodrigo.
Ele não merecia. Aliás, ninguém merece sofrer.
Chegado a esquina da rua olhava sempre para traz para me dizer adeus com a mão.
Eu retribuía o gesto.
Já era um ritual nosso.
Amanhã por certo havia-mos de voltar a estar juntos, para mais um dia de brincadeira, e mais uma aula da escola da vida.

 

DIOGO_MAR


 

sábado, 12 de janeiro de 2013

PAI


Quantas noites digo um beijo ao Pai,
E fica no ar aquele beijinho!
Pai, o tempo vai passando e eu não tenho o teu carinho.

 
Quantas vezes oiço o portão tilintar,
E numa correria louca grito!
É o Pai! É o Pai!
Depois, bom depois choro,
De tristeza, desilusão e dor.
Pai, quando é que tu vens para me dar um pouco de Amor!

 

Diogo Mar

Chicletes Gorila um sabor de Amizade


 
Olá, quem não se lembra das pastilhas elásticas Gorila!
Eu aproveitava todos os trocos e gorjas, que tinha como recompensa dos recados que fazia a algumas velhotas, da minha aldeia,
Para comprar as chiclas da Gorila.
Era dois em um. Já que para além da pastilha, ela fazia-se acompanhar de um cromo para juntar a nossa coleção.
Este investimento saciava dois desejos.
Sempre que ia a loja do Sr., António com algumas moedas a reluzirem na minha mão, ele já sabia.

Quantas são menino?

Deixava cair as moedas em cima do balcão e juntos conferia-mos, para ver quantas dava.
Por vezes até faltavam uns testões, mas o Sr. António que não era somítico, acabava por me presentear com mais uma.
Aquela atitude era como me fidelizar-me a sua loja.
Era uma figura pitoresca, de estatura média, magro e com um longo e farfalhudo bigode.
Tinha um semblante sorridente e sempre por companhia o seu lápis por de traz da orelha.
Sentia que gostava de mim, só não achava muita piada a algumas das traquinices que por vezes fazia em conjunto com os outros.
Ainda recordo a célebre frase que as pessoas mais velhas da minha aldeia diziam.

Raios parta a canalha,
Nem o diabo quis conversa com ela.

Eu não achava piada a frase porque se o diabo é tão mau,
Então estavam a dizer que nós ainda eramos piores.
Mas ao mesmo tempo também lhe dava outra interpretação.
Se nós conseguíamos ser piores que o diabo, que é mau, ainda somos mais fortes, era-mos uns heróis.
Com as Gorilas no bolso eu era um rei.
Os meus amigos acercavam-se de mim na ânsia que eu lhes oferecesse uma chicla.
O Daniel o Rafa o Rodrigo o André quase que em uníssono uns com voz mais audível outros mais tímida, pediam-me.

Ó, Diogo podias dar-me uma chicla.
Dás-me Diogo? Anda lá!

Eu acedia ao pedido, mas com uma condição.
O cromo, é meu.
A quem eu oferecia em primeiro era ao Rodrigo, porque era o mais tímido e nem pedia.
E como fui educado a não pedir nada aos meus pais, sabendo eu que dessa forma lhes despertava uma maior vontade de me presentear,
Achava a postura do Ródri era assim que o tratava, mais correta.
Ele bem sabia que eu nunca me esquecia.
Era um bom e grande amigo, daqueles que se gosta muito de ter.
Por vezes até nem lhe dava na frente dos outros, para eles não repararem na minha dualidade de critérios.
Mas o Ródri sabia que eu tinha sempre a pastilha para ele.
E com uma vantagem, eu dava-lhe o cromo se ele já me fosse repetido.
Uma vez fui chamado a pressa pela minha mãe.
Corri para casa e acabei por me esquecer de dar a chicla ao Rodrigo.
Lembrei-me durante o jantar.
Fiquei triste por me ter esquecido.
Arranjei uma boa mentira para os meus Pais me deixarem ir a casa dele.
Inventei algo sobre um trabalho de turma que estava-mos a fazer na escola, e que tinha-mos de dar continuidade em casa.
A minha Mãe disse-me logo que não, faltava o veredito final do meu Pai.
Vais, mas quero-te aqui em casa dentro de 15 minutos.
Respirei de alívio, era tempo mais que suficiente para dar uma fugida a casa do Ródri.
Saí porta fora a correr.
Toquei a campainha.
Vinha lá de dentro um fervilhar de vozes alteradas, pareciam discutir.
Fiquei algo assustado.
O Pai do Ródri não ia lá muito com a minha cara, porque eu era muito frontal e rebatia as ideias ditatoriais dele.
Bom, eis que alguém abre a porta, fiquei algo receoso, mas era o Rodrigo.

O que queres?

Senti que ele estava magoado comigo.
Pedi-lhe desculpa e estiquei-lhe a mão e entreguei-lhe a gorila.
Instantaneamente o semblante carregado, deu lugar a uns olhos rasos de lágrimas.
Agradeceu-me com a voz trémula.

Não tinhas necessidade de vires cá.
Muito obrigado, és um grande amigo Diogo.
Nunca tive dúvidas disso.
A, e desculpa a maneira como te falei quando te abri a porta.
Como já deves ter dado conta as coisas aqui por casa não estão fáceis.

Sim, já deu para ver.
Ródri, se a gorila ajudar a ficares um pouco mais feliz, já fico contente.

Não, Diogo. A chicla não me vai por feliz.
Mas o teu gesto a tua atitude, essa sim encheu o meu coração de felicidade.

Ainda bem Rodrigo.
Boa noite.

Mais uma vez obrigado Diogo.
Amanhã dou-te o cromo.

Não, é para ti.

E se te faltar?

Ródri, não é um cromo que paga a felicidade de um amigo.
Tchau, fica bem.
Corri para casa já que o tempo que me tinha sido concedido pelo meu Pai estava-se a esgotar.
Chegado encontrei o meu pai a ler, e a minha mãe a preparar as roupas para o dia seguinte.
Olharam-me, e a minha mãe fez o comentário.

Então Diogo o trabalho, já tiraste as dúvidas com o Rodrigo?

Sim, mãe já.

Diogo, sabes que nós não gostamos que tu mintas, e os teus olhos facilmente te denunciam.
O que foste lá fazer Diogo?

Perguntou-me o meu Pai com voz firme.

Senti-me confrangido.
Eu não tinha medo aos meus Pais, nunca foram esses os padrões de educação que me ministraram.
Respeito sim, medo não.
Eu sabia que era quase impossível enganar, e muito menos mentir a minha Mãe.
Fiquei imóvel e calado durante uns segundos.
E respondi.
Sim, eu efetivamente menti.
Não há trabalho nenhum, eu fui dar ao Rodrigo uma pastilha elástica que lhe tinha prometido hoje a tarde.
Já que não o fiz quando estava junto dele, porque vim a correr a quando da chamada da Mãe.

Ok, Diogo e porque não disseste a verdade?
Retorquiu-me o meu Pai.

Tive receio que por ser algo tão banal vocês não me deixassem ir.
Eu gosto de cumprir com a minha palavra e com as minhas promessas.
E o Rodrigo, é um caso duplamente especial, já que como vocês sabem é o meu melhor amigo, nunca me pede nada, e tem a conjuntura familiar que infelizmente todos sabemos.
Daí este meu empenho em nunca falhar com ele, porque sei que o magoo-o, e dessa forma estou, a contribuir para a sua tristeza e para o seu sofrimento.
Mas reconheço o meu erro em vos ter mentido.
Só me resta pedir-vos desculpa.
As lágrimas, rolavam-me pela cara.
De pé, encostado a parede, olhava os meus Pais, com o respeito que me merecem.
Sentia-me um ator, só e abandonado no palco.
De repente sinto uma mão, a puxar-me para um colo que bem conhecia.
O mais terno e doce colo do mundo. O da minha mãe.
Abraçou-me contra ela, limpou-me as lágrimas com a ponta do avental, e cobriu-me de beijos.
O meu Pai desviava o olhar para a televisão para eu não me aperceber de alguma lágrima atrevida que lhe fugisse., mas eu bem que o conhecia.
Ele era o meu Pai, mas acima de tudo o meu melhor amigo.
Sei do coração de ouro que tem, e do orgulho, que sente por mim.
Eu amo os meus Pais.
Depois de todo o afago da minha Mãe, levantei-me e fui pedir desculpa ao meu Pai.
Ele fitou-me fixamente, mas com um olhar ternurento, e disse-me.

Diogo, sabes que não gostamos de mentiras, mas o teu ato foi tão nobre, em honrares a tua palavra, e tu sabes o quanto o Pai admira isso, e acarinhares o teu melhor amigo, que só por si a falha, para connosco fica perdoada.
Orgulho-me muito de ti Meu Filho.

Então foi aí que os braços dele se esticaram e me envolveram no melhor abraço do universo.
Selou aquele momento com um beijo.

Sabes Diogo, tens razão se nos tivesses dito o motivo acho que não ia-mos entender.
Mas agora vendo a verdade e os motivos que te levaram a mentir, ensina-nos a ter-mos mais sensibilidade para pormenores que por vezes nós adultos não valorizamos.
Acabaste por nos dar uma boa lição Diogo.
Vai vestir o pijama lavar os dentinhos e vai-te deitar.

Agradeci-lhes, fui cumprir esse ritual, e meti-me na cama.
Agora já só faltava a ronda das despedidas.
Virem dar-me um beijinho.
Já estava aconchegado nos cobertores, e agarrado como sempre a minha Mantinha.
Já tinha uma boa história para lhe contar!

 
 
DIOGO MAR

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Olá! Cheguei com a minha Mantinha!!!

Meus amigos hoje é dia 01 de janeiro de 2013.
Início de novo ano, e novo blog.
Prometo andar por cá muitas vezes.
Eu, e claro a minha Mantinha.
Vamosaquecer as palavras!!!

Diogo Mar