Aquela manhã acordou sob um sol esplendoroso.
Estávamos em inícios do mês de Março.
Da janela de sacada do meu quarto, onde muitas vezes me
sento a ler, disfrutava de um quadro paisagístico privilegiado, para o Douro
vinhateiro, mas que nesta altura nos oferecia um outro espectáculo.
Eram as amendoeiras e cerejeiras em flor.
Tricotavam as encostas emprestando-lhe uma beleza única, um
cenário deslumbrante.
A minha casa ou paraíso como lhe chamava o meu Pai, ficava sobranceira
ao rio douro.
Despertei com um beijo da minha Mãe, dizendo baixinho.
Acorda Filho!
Diogo?
Vá, acorda!
Olá Mãe.
Esfreguei os olhos, preguicei um pouco e saltei da cama.
Acerquei-me da janela e olhei, para aquele anfiteatro de uma
beleza indescritível!
Já era um ritual, não há dúvida, que era a melhor forma de começar o dia!
A minha mãe, tinha previamente combinado comigo ir a vila
para comprar uns ténis e dois pares de calças, já que o meu crescimento assim o
obrigava.
Vesti-me num ápice, e quando desci para tomar o pequeno-almoço
já ela estava na cozinha, a dar andamento a nossa primeira refeição do dia.
Dei-lhe o um beijo, ela retribuiu-me, dizendo.
Olá, bom dia. Dormiste bem?
Pelo menos a avaliar pelos teus olhitos parece que sim.
Dormi bem sim Mãe.
Que motivos havia eu de ter com 13 anos para não dormir bem?
Ainda não tinha entrado no mundo a que os meus Pais chamam
de selva.
Bom, Diogo, vamos lá despacha-te porque ainda tenho de ir trabalhar.
Eu tinha uma boa relação com a minha mãe, aliás com os meus
pais.
Por vezes lá surgiam laivos de infantilidade, coisa normal
da minha tenra idade.
Estava contente, gostava de fazer compras, e sabia que além
dos ténis e das calças, em algo mais podia ser presenteado.
Dessa forma também podia oferecer ao Rodrigo alguma roupa
que me estava a deixar de servir.
Era sempre assim.
Passava de mim para ele.
Na aldeia tínhamos um espirito solidário, para com aqueles
que viviam com mais dificuldades económicas.
Havia outra alternativa, era dar a comissão fabriqueira da
nossa igreja, para que depois distribuíssem por famílias carenciadas.
Atravessamos o jardim fronteiriço da minha casa, na
companhia do Dique.
Guardou-nos as costas até fecharmos o portão.
Guardou-nos as costas até fecharmos o portão.
Fiz-lhe uma festa, e entramos para o carro.
A minha Mãe a fez-se a estrada que nos havia de levar até a
vila.
Durante a viagem lá me foi dando alguns conselhos em relação
ao meu comportamento e aproveitamento na escola que tem sido exemplar, alertando-me
para o meu futuro que está em jogo.
Chegados a vila presenteou-me com um pastel de nata que sou
grande apreciador.
Lá vim eu lambuzando-me pelo caminho até entrar-mos no pronto-a-vestir.
Já éramos habituais clientes, por isso logo foram
proferidas as saudações efusivas por parte da Dona Fernanda, a proprietária da
loja.
Claro que insidio sobre mim os comentários, e as perguntas.
Olá Diogo, estás grande e bonito!
Não te devem faltar raparigas a traz de ti!
Já namoras?
Quem é a sortuda?
Não me importava nada que fosse a minha filha.
Estás um homem!
Nunca entendi muito bem esse comentário, porque acho que nunca fui mulher lol.
Agradeci-lhe, mas não gosto nada de me ver naquele papel de
cabeça de cartaz.
E muito menos namorar com a filha dela, miúda chata, e sem
assunto.
Muito básica.
Pior ainda foi quando corei, e ela riu de mim, e sublinhou tudo
aquilo que já tinha dito.
Por favor tirem-me deste filme!
A minha Mãe sabendo que eu me estava a sentir confrangido,
abreviou a conversa dizendo que tinha alguma pressa, e até estava mesmo,
já que ainda ia trabalhar.
Mas foi ótimo, já que a nossa tarefa avançou de uma forma
bem rápida.
Reconheço que também nunca tive pachorra para perder muito
tempo a fazer compras.
Acho que as lojas devem ser local de visita, para
adquirirmos o que queremos, e não estar ali a fazer sala.
Lá escolhi os dois pares de calças, que acabaram por serem três, já que a dona Fernanda resolveu fazer um bom desconto, e trouxe também uma sweatshirt cor verde-mar, muito bonita.
De seguida dirigimo-nos a sapataria, que até costuma ter ténis Giros.
Respirei de alívio quando me vi libre daquela senhora, e do
seu questionário, e dos elogios.
Uf, até que em fim.
Estava a ver que não.
Estava abeira de um ataque de nervos.
Ela e simpática, mas também é algo chata.
A minha Mãe sorrio.
Entrados na sapataria, logo me assaltou a vista uns ténis
muito bonitos em tons de laranja e pretos.
Mas também vi que eram os mais caros.
A minha Mãe deixa que seja eu a escolher, diz que se é para
mim, eu é que devo fazer.
Claro está, dentro de limites de quantidade e valor.
Embora vivêssemos de uma forma desafogada, os meus Pais
trabalhavam muito para manter, este padrão de vida.
Eu ficava sempre embaraçado quando a minha Mãe, me fazia a
pergunta.
Então Diogo, quais são os que gostas?
Para disfarçar, fiz um olhar corrido por todos, mas estava-me na retina os ténis laranja e pretos.
Mas ela, que me conhece como
ninguém, esticou a mão e pegou nos que eu mais gostava.
São estes?
Ela viu nos meus olhos a minha resposta.
De uma forma espontânea deu-me um
beijo.
São muito bonitos, eu gosto muito deles Mãe.
Mas são os mais caros!
Pois, tu tens olho para as coisas boas, e ainda bem que assim é.
És um rapaz de bom gosto!
Disse uma das funcionárias da
loja.
Calcei-os, ó, servem!
Ficam-me bem.
Agora estava de ténis novos, calças
novas e sweatshirt tudo a estriar.
Quando saímos da loja, abracei-a
e dei-lhe um beijo.
Obrigado Mãe!
Faz sempre por mereceres Diogo.
Sabes que só tens a ganhar, se cumprires
sempre com a tua parte.
Eu sei, e vou sempre tudo fazer para nunca vos defraudar.
Agora apanhas o autocarro para casa, e eu vou trabalhar.
Mãe? Depois fazemos o saco das roupas que já não me servem para dar ao Rodrigo?
Sim, depois durante o fim de semana fazemos isso pode ser?
Sim claro.
Olha e em falares nisso toma dinheiro para o bilhete do autocarro, e compra uns bolos para o vosso lanche.
Esbocei um sorriso que me inundou o rosto.
Tudo aquilo que eu poça partilhar
com os meus amigos desperta em mim um efeito de felicidade.
Ia convidá-los para irem lanchar
a minha casa, e poder disfrutar desses momentos em que estamos juntos, num
perfeito convívio.
Gosto de ser simpático com as
pessoas com as quais me identifico.
Reconheço que não tenho muitos
amigos, mas os que tenho são os que fazem por merecer essa minha cota de
amizade e confiança.
Sou pela velha máxima, poucos mas
bons.
Nunca a quantidade foi sinonimo
de qualidade.
Ou gosto, ou não gosto. É muito
simples.
Para mim não existe o assim,
assim.
Fazer fretes jamais.
Por tudo isto na escola diziam
que eu era antipático.
Mas nunca foi apreciação que me
incomodasse.
Gosto de ser assim.
Personalidade e carater muito
forte. O resto, bom, o resto estou-me nas tintas para o que digam, ou pensem.
Jamais em circunstância alguma
abdico de ser igual a mim próprio.
Quem não gostar, que ponha na
beira do prato.
Já chegado a casa encontrei pelo
caminho o André que tinha ido fazer um recado ao Avô.
Grande pinta!
Ténis novos calças novas, e sweatshirt
nova.
Yap!
Estás fixe!
Obrigado André.
Yap!
Estás fixe!
Obrigado André.
Bom, vou tratar da bicharada, e do
meu almoço.
Logo vocês lancham comigo.
Todos?
Sim.
Ok Diogo.
Tenho de ir.
Vá, tchau, fica bem.
André, depois do almoço podia-mos ir dar uma volta de bicicleta.
Boa ideia.
Passa aqui por minha casa.
Vou ver se o Dani e o Rafa e o Ródri podem vir.
Até logo André.
E bom apetite.
Ok obrigado Diogo, para ti também.
Ok obrigado Diogo, para ti também.
Mal entrei em casa, tocaram a campainha.
Espreitei e vi o Rodrigo.
Acionei o comando para abri o
portão.
Claro está que o Dique fez logo a
escolta do Ródri até casa.
Ei! Grande pinta!
A roupa e os ténis são muito
bonitos.
São altamente.
Eu vi-te a passares no autocarro,
e resolvi dar aqui uma saltada.
Hoje não tenho ninguém em casa.
Boa, então almoça comigo, a comida que tenho chega para os dois.
Mas?
Vá, sem comentários. És meu convidado.
Bora lá, vou tirar esta roupa
vestir o fato de treino, e vamos fritar uns riçóis, para acompanhar com o arroz.
Dizem que os olhos são o espelho
da alma, isso no Rodrigo é bem notório.
Já que eles se enchem de brilho.
Era uma união perfeita o azul brilhante
do seu olhar, com o sorriso de felicidade que imanava do rosto.
Se quiseres, enquanto tratas do almoço eu poço ir cuidar dos animais.
Queres?
Sim!
Boa, dessa forma tudo é mais
rápido.
Coloquei um avental, e comecei a
fritar os riçóis, e a pôr a mesa.
Quando regressou, já tudo estava pronto.
Que bom aspeto!
Eu gosto de cozinhar para os outros, fazê-lo só para mim acho uma seca.
Está muito bom.
Ainda bem.
No fim de semana, eu e a minha
Mãe, vamos ver a roupa que já não me serve para te oferecer.
Obrigado Diogo.
Não sei como te poço agradecer
tudo que tens feito por mim.
Acredita, és o meu ídolo.
Eu?
Ídolo?
Achas, não quero ser ídolo de ninguém.
Quero, e fico muito feliz se
fores melhor que eu.
É o que o meu Pai sempre me diz,
quando lhe digo isso.
Isso é modéstia tua Diogo.
Mas para mim, és e serás sempre
uma referência.
Ok, Ródri, fico feliz por isso.
És o meu mano.
E tu também o és para mim.
Olha, hoje lanchamos todos aqui, Comprei bolos na vila.
Eu combinei com o André ir-mos
após o almoço dar uma volta de bicicleta.
Pois, só que eu não poço ir.
Porquê?
Tenho um pneu furado.
Isso resolve-se, eu tenho uma caixa de tapa furos, na garagem.
Tratamos depois disso.
De outra forma, arranja-se outro
programa para estarmos juntos.
Esta é a minha filosofia de vida,
com o meu grupo de amigos.
Um por todos.
E todos por um.
Só assim vejo o real sentido da
amizade.
Diogo_Mar