sexta-feira, 28 de junho de 2013

VIVÊNCIAS DA MINHA ALDEIA



Estava eu pelos meus 14 anos, idade essa que se permite ter todos os sonhos e fantasias.
Depois crescemos, e constatamos que não é bem como nós alicerçamos os nossos projetos.
Como de um quadro se tratasse, que pintávamos com tons vivos e coloridos, mas com o decorrer do tempo, ia adquirindo alguns sombreados.
Eram as fintas e rasteiras da nossa vivência.
Processo por vezes doloroso, mas que nos faz amadurecer.
Vivíamos nessa fasquia entre os 12 e os 15 anos.
Ou seja: os mais novos do grupo eram o Rodrigo e o Daniel
Pelo meio estava eu e o André
O mais velho era o Rafael.
Olhando a proximidade das nossas idades, padecíamos dos mesmos problemas e ânsias, da adolescência.
Acalentávamos um futuro desenhado e projetado por nós.
Que idade tão bonita.
Idade de saborear todas as travessuras, e sentirmo-nos os verdadeiros campeões os donos do mundo.
Tempo das primeiras namoradas, dos amores inocentes, como se de um filme se tratasse, onde desempenhávamos o papel de atores principais.
Ainda não se tinham banalizado, princípios morais e éticos.
Os patamares da vida tinham outro encanto.
A par de tudo isto, os nossos Pais iam-nos incutindo o sentido de responsabilidade, através das tarefas pelas quais nos incumbiam.
Claro está que os padrões de educação eram algo diferentes, os melhores que os nossos progenitores achavam para nós.
Como pássaros livres, nós também vivíamos em perfeita harmonia com a natureza.
Sabíamos respeitá-la, mesmo porque tínhamos a consciência que dela dependíamos.
O amanho da terra, as sementeiras, as colheitas o cuidar dos animais.
Tudo isto eram tarefas às quais dedicávamos parte do nosso tempo.
Era um orgulho ver os campos asseados, como se fossem os jardins da nossa aldeia.
Os animais bem tratados, transpirando saúde.
Eles a seu tempo iam entrar na nossa cadeia alimentar.
A lei justa da sobrevivência.
Embora eu tivesse alguma relutância quanto a isso, já que havia animais pelos cuais ganhava afeição.
E não aceitava muito bem a sua morte.
Principalmente os coelhos.
Isto já não se aplicava aos perus e as galinhas, que achava animais estúpidos e pasmacentos.
Sempre que se procedia à morte de animais lá em casa, ou na aldeia eu nunca ia assistir.
Os meus Pais respeitavam essa minha vontade, e nunca me forçavam a ver tal tarefa.
Os meus amigos gozavam comigo, e com o André que partilhava da mesma atitude.
Por alturas da matança do porco, a família do Rafa convidava-nos para esse ritual.

Então Diogo, não vens?
Espicaçava-me ele, num tom provocatório, sabendo da minha resposta.

Olha Rafa, vai dar uma volta, bem sabes que não.

Pois, mas depois gostas de comer os rojões! Lol.
Mas logo se apressou a dizer:

Estou na brincadeira contigo Diogo.
Nós sabemos bem que tu e o André não gostam de ver matar.
Não fosse eu levar aquele comentário assério, e rejeitar o convite.

Depois vão lá ter para o almoço ok?

Sim, depois eu e o André vamos la ter.
Rafael: Poço convidar o Rodrigo?

Sim, claro que sim, a questão é que o Pai dele deixe.

Sendo a pedido do meu Pai, ele não se atreve a negar.
O Armando era um personagem bastante problemático, já contava no seu curriculum com uma passagem pela prisão.
Mas o Rodrigo era afilhado dos meus Pais, pessoas a quem o Armando respeitava e temia.
Já que o meu Pai o reprendia pelos maus tratos que infligia à família.
Não admitia essa postura animalesca da parte do Pai do Rodrigo.
E pairava no horizonte a possibilidade dos meus Pais, requererem a guarda dele fazendo valer a posição de Padrinhos.
Situação que me agradava imenso, já que ganhava o irmão que não tinha.
O Armando, não nutria grande simpatia por mim, porque eu o afrontava, em defesa Do Rodrigo.
As suas ideias ditatoriais passavam-me ao lado, eu sabia rebatê-las.
Não tardou, e os gritos lancinantes do suíno ecoavam pela aldeia.
Eu punha o som da música mais alto para abafar aquele estridente ruido.
Depois dessa fase traumática para mim, já podia por pés ao caminho para ir chamar o Rodrigo.
Acompanhado pelo André lá fomos enfrentar aquela figura austera e rude que era o Armando.

O que querem?

Primeiro, bom dia.
Fica bem dizer-se.
Segundo, venho chamar o Rodrigo para ir almoçar connosco a casa do Rafael, estão lá todos, e os meus Pais fazem gosto que ele vá.
De forma grosseira, lá chamou o filho.
O Rodrigo acercou-se do portão.

Vais, mas não te quero aqui tarde.
Estás a ouvir pá?

Também não vamos comer apressadamente para ele vir para casa, é falta de educação sair da mesa antes que todos acabem de almoçar.
Bem como, não se vai a casa de ninguém só para comer e logo sair.
São regras de boa educação que os meus Pais me ensinaram, e claro está, também querem que o afilhado tenha.

Isto não pode ser assim Diogo.

Bom, isso é um assunto que você deve falar com o meu Pai.
Ele enquanto está na nossa companhia está bem, ao contrário daquilo que você acha.
Há, e está feliz.
O Rodrigo tal como eu e todos, tem direito a felicidade.
Não acha?

Bom, vamos ficar por aqui, respondeu o Pai do Rodri já com um semblante carregado.
Senti que tinha vontade de descarregar a sua fúria em cima de mim, mas nem se atrevia a tal.
O Rodrigo dava-me toques em sinal para eu me calar, tendo medo que eu ao entrar em despique com o Pai, hipotecasse a ida dele ao almoço.
Mas eu que sempre fui e sou de fortes convicções, não me deixava amedrontar pelo tom ríspido e intimidatório do Armando.
Para mim, antes quebrar que torcer.
Com a minha razão ninguém me cala.
Dobramos a esquina da rua, e o Rodrigo logo esboçou um sorriso que lhe inundou o rosto, contrastando com o azulado dos seus olhos.
Parecia ter ganho um uma nova vida.
Era sempre assim, quando eu o arrancava de casa.

Obrigado Diogo, só tu para me libertares.
Para mim, não há nada que pague a felicidade de alguém de que gostamos muito.
Era esse o caso, o Rodri era um irmão.
Agora já em casa do Rafa, com um forte cheiro a rojões e a sarrabulho, e com toda aquela gente, vivia-se um ambiente de alegria pura, e contagiante.
Deram-nos as boas vindas, e ficaram felizes ao verem o Rodrigo.
O Avô do André, levou um acordeão, o meu Pai pegou no cavaquinho, o Pai do Rafael nos ferrinhos.
Estava montado o cenário para uma tarde de convívio, que cada escalão etário aproveitava da melhor forma.
Foi festa rija até a noite.
Bem a moda do Alto-Douro.

 
DIOGO_MAR




quarta-feira, 19 de junho de 2013

O AVESSO DO MUNDO



A Pátria que me pariu
Terra de esperança
Sorriso espontâneo no rosto de uma criança.

 
Criança que abraçava o universo
Inocência e verdade, que ocultavam o lado perverso.
 

Espelho de um mundo injusto, construído pelo meu semelhante
Acorda e abandona, esse caminho errante.

 
Desigualdade injustiça é essa a tua lei
Esmagas a plebe, em nome do rei.

 
Ó déspota que vives obcecado pelos bens materiais
Adulteraste e esqueceste os teus princípios ancestrais.

 
Pobre homem de ambição desenfreada
Sonhaste com uma mão cheia de tudo
Sobra-te uma mão cheia de nada!

 
Foi este o caminho que traçaste para o teu destino
Agora já só ecoam as vozes do mais triste hino.

 
Ó aldeia global
Alimentas o esclavagismo social
Rolam lágrimas de fome, miséria e descrença neste meu Portugal!

 

DIOGO_MAR

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O MEU PIÃO


Olá pião
Tantas vezes dançaste na minha mão.

 
Mão hábil e certeira
Lançamento perfeito para a brincadeira.

 
Brincadeira inocente e colorida
Olho para ti, recordando esse patamar da minha vida.

 
Vida de criança pura e verdadeira
Tantas vezes foste meu companheiro de algibeira.

 
Algibeira carregada de esperança
Exibias felicidade contagiante na tua dança.

 
Uma dança por vezes desengonçada
Tombavas, deixando em mim uma mão cheia de nada.

 
Um nada, que aprendi a contrariar
Gira meu pião
Ensina-me acreditar!

 
Acreditar no tempo vindouro
Pula, gira dança
Para sempre, serás o meu pião de ouro.

 
Pião de ouro preso a mim pelo baraço
Jamais esquecerei os momentos que juntos passamos meu amigalhaço.

 
Amigalhaço de uma vida de brincadeira
Agora ocupas lugar de destaque na prateleira.

 
Prateleira da estante de recordações
Gira dança meu pião
Eu canto para ti uma das tuas canções!

 
(Eu tenho um pião, um pião que dança
Eu tenho um pião mas não to dou não.

 
Gira, que gira o meu pião, mas eu não to dou nem por um tostão

 
Eu tenho um pião, um pião que dança
Eu tenho um pião mas não to dou não.)

 

 DIOGO_MAR

sexta-feira, 7 de junho de 2013

UM DIA NA FEIRA



Um dos meus roteiros preferidos, era ir a feira com os meus Pais.
Eu gostava de respirar aquele ar, carregado de múltiplos aromas.
A juntar a tudo isto, toda a variedade de produtos, e todo o colorido e pregões que se ouviam, emprestava aquele local, uma grande singularidade.
Era o ponto de encontro de gerações, e de muita gente oriunda de várias paragens do concelho, e de todos os estratos sociais.
Nós já conhecíamos os feirantes, e os artigos que vendiam.
Claro está que eu tinha uma grande preferência pela dona Carlota, que vendia uns doces caseiros maravilhosos.
Era uma personagem pitoresca.
Além de muito simpática, e que nutria por mim um carinho muito especial, vá-se lá saber porquê!
Era dotada de um bigode que fazia inveja a muitos homens.
Eu que nunca fui dado a beijos, naquele momento sentia-me feliz por tal facto, pois não gostaria nada de me sentir beijado por uma boca encaixilhada em tão másculo bigode.

Ó meu amor, estou a meter dois bolinhos a mais para comeres na viagem.


Não o estrague com mimos dona Carlota, disse a minha Mãe sorrindo.


A, agora.
Uma coisa tão bonita tem de ser mimada.
Só é pena que seja por uma velhota.
Não é Diogo?


Comecei a corar, e sorrindo agradeci-lhe.


De nada meu amor, dei porque quis.
Voltem sempre, gosto de saber que estão bem.


Seguimos viajem, já a lambuzar-me com um daqueles bolos deliciosos.
Os meus Pais olhavam para mim e riam.
O que foi?

Diogo, limpa a boca e o nariz. Já tens farinha do bolo por todo o lado.


Comia com tanto entusiasmo, que o meu Pai gracejou dizendo:


Até parece que não comes há 15 dias!


Pois, mas o que é doce nunca amargou, não é filho?

Respondeu-lhe a minha Mãe.
Íamos caminhando a desfrutar de toda aquela panóplia de produtos, cheiros e pregões.


Ó freguesia, olhem calças, é pró menino, e prá menina!
Ó riqueza, não quer calças para o menino?
São da moda!
Olha que calças bonitas meu amor!
Não gostas?
Tenho mais modelos!
E são de marca!


Não, obrigado não quero.

Hoje não, acrescentou a minha Mãe.

Achava piada ao tratamento dos feirantes para com os clientes.
Ó riqueza, ou ó meu amor.
As vozes misturavam-se com o megafone do Sr. Augusto que leiloava jogos de cama, e atoalhados.

Quem dá mais?
É a última oportunidade.
Ninguém dá mais?
Fica para aquele cavalheiro.

Depois tínhamos a banca do Sr. Jorge que vendia cassetes e cds com os sucessos recentes.

Olhe!
Ó senhor!
Bote a tocar o Quim Barreiros!
Sugeria uma transeunte.

Era um barulho diversificado, mas ao mesmo tempo agradável, pela beleza que emprestava ao recinto da feira.
Naqueles dias a vila ganhava outra vida, tinha um bulício que em circunstâncias normais não acontecia.
Estávamos nós a passar junto dos vendedores de galinhas, quando uma delas fugiu, esvoaçou, assustando uma senhora, que por sua vez, me abalroou.
Quase me deitava por terra.
Agrediu-me com os seus longos e avantajados seios.

Magoei-te?

Não!

Desculpa meu amor!
Diabos levem a galinha!


Não faz mal, disse eu, a recompor-me daquele episódio.

Olhei para os meus Pais que disfarçadamente riam, a bom rir, principalmente o meu Pai.
Tem uma piada?
O meu desabafo ainda lhe estimulou mais as gargalhadas.

Deixa lá filho, já passou, dizia a minha Mãe, ao ver-me com uma expressão de aborrecido, e envergonhado.

Aqueles personagens de aventais coloridos e a irradiar alegria exerciam sobre nós um verdadeiro contágio, ao qual não podíamos ficar indiferentes.
Os meus Pais lá foram comprando os artigos que precisavam, cujos preços fossem convidativos.
Eles sabiam regatear com os vendedores o custo dos produtos que pretendiam adquirir.
Principalmente a minha Mãe que esgrimia todos os argumentos para poder comprar o mais barato possível.
Estava ali bem patente o instinto de dona de casa, saber gerir é uma virtude, e a minha Mãe tem-na.
Entre saudações do meu Pai, a várias pessoas, já que era bastante conhecido na vila, bem como a minha Mãe, eu, também ia encontrando colegas de escola, e até mesmo professores e funcionários.
A feira, não há dúvida, que mais se assemelha a uma peça de teatro, onde os atores são os vendedores, e nós os figurantes.
É um local de convívio entre todos, e de alegria, assente na mais perfeita reciprocidade de quem vende, e de quem compra!
 
DIOGO_MAR 

terça-feira, 4 de junho de 2013

O MEU CAVALINHO DE MADEIRA



No meu cavalinho de madeira, baloiçava a minha infância
Jogava o jogo do tempo, sem qualquer relutância.

 
Passeava ao sabor dos dias
De uma vida pura e sem maldade
Não fazia parte do meu dicionário a palavra falsidade.

 
Ó tempos de criança, carregados de magia
Era mais uma flor a despontar para o dia.

 
Dia de luz pura, e verdadeira
Lá ia eu, galopando no meu cavalinho de madeira.

 
Galopava ao encontro do futuro cheio de interrogações
No teatro da vida, exposto a ratoeiras e frustrações.

 
Não corras tanto meu cavalinho de madeira
Deixa-me viver, esta vida de brincadeira!

 
Afinal não passava de uma criança
A baloiçar um futuro carregado de múltipla esperança.

 
Era um frágil e pequeno petiz
O tempo havia de ser o meu juiz.

 
Um juiz cruel e avassalador
Corre mais meu cavalinho, não quero sentir essa dor!

 
A dor de um mundo desigual
Onde impera o egoísmo,
A guerra a fome
Foge, foge cavalinho
Leva-me contigo
Eu não quero ser homem!

 

 
DIOGO_MAR

domingo, 2 de junho de 2013

UMA TARDE NO RIO


Preguiço na cama do tempo, como se ele fosse o relógio,

Onde os anos são horas,

Os meses os minutos,

Os dias segundos.

Percorro esse longo e íngreme caminho que me trouxe até aqui.

Vasculho na minha memória passagens que fizeram o meu livro de vida, que vou partilhando nos meus dois blogs, em forma de prosa, ou de poesia.

Vai daí, e já estou pronto para vos transmitir mais uma peripécia da minha adolescência, essa idade onde quase tudo nos é permitido fazer.

Só ainda não encontrei a definição correta, já que fico dividido entre:

Puberdade, ou pobre idade lol!

Seja lá como for, é dos patamares mais aparvalhados, mas dos mais belos da nossa existência.

Foi num dia, sob um sol escaldante que castigava o alto Douro, no pico do verão, que fomos até ao rio.

Era um ritual nosso, quando as temperaturas, nos convidavam a uns bons mergulhos, Naquele belo espelho de água, que banha aquela região.

O rio Douro, é o nosso ex-libris da paisagem, bem como responsável por aquele microclima que gozámos naquelas paragens.

Ténis, calções, t-shirt e boné montados nas nossas bikes aí estávamos nós prontos para uma tarde de grandes emoções.

Eramos seguidos de perto pelo Dique, o meu Cão, que estava eufórico porque já sabia onde íamos, pela direção que estávamos a tomar.

Tenho que reconhecer, que vestir um fato de pelo, em dias de calor não devia ser nada agradável.

Por isso toda a sua alegria efusiva.

Tínhamos que o reprender por vezes, já que se atravessava por entre as bicicletas, correndo nós o perigo de darmos um tombo.


Vá, Dique, calma!

Disse-lhe o André.


O caminho foi-se estreitando, seguíamos em fila indiana, o cão tomou a dianteira do pelotão.

Quanto mais nos aproximávamos, mais ele corria, língua de fora arfava com intensidade, agitando a cauda.

Nós pedalávamos a compasso.

Eis chegados.

Encostamos as bicicletas, tiramos as t-shirts e os bonés, e lá vai disto.

O Dique já estava todo encharcado.

Ladrava, expressando toda a sua alegria, e parecia dizer que a temperatura da água estava boa.

E, claro, provocando-nos para as brincadeiras que sempre fazemos com ele.

O Daniel o André foram os primeiros a lançarem-se a água, imediatamente seguidos por mim, o Rodrigo e o Rafael.

Sabíamos dos cuidados que tínhamos de tomar, já que 3 anos antes um rapaz de uma aldeia vizinha tinha morrido afogado num local mais acima.

Daí a nossa atenção.

Embora todos, nadássemos bem, mas de heróis está o cemitério cheio.

Entre braçadas piruetas e brincadeiras com o Dique, a quem lançávamos um pau, e logo ele se atirava a água para o ir buscar.

Também levamos uma bola, para darmos uns toques.

Estavam reunidos todos os requisitos para uma fantástica tarde de verão.

Não demorou, que mais gente chegasse.

O rio, era um ponto de encontro nos dias quentes.

Não tínhamos que nos preocupar com os nossos haveres, já que dessa tarefa o Dique se encarregava.

Ninguém estranho ao nosso grupo, ousava aproximar-se do sítio onde estavam as nossas coisas.

Tomava conta de tudo e até de nós.

Quando eu, ou o Rodrigo nos afastávamos mais da margem, ele ficava nervoso, ladrava freneticamente, como se nos estivesse a repreender.


Diogo, e Rodrigo, não nadem para longe, o cão não se cala!

Pedia o Rafa.


Nós eramos profundos conhecedores daquele local, mas não fosse o Diabo tecê-las.

Regressamos ao perímetro em que o Dique nos consentia estar.

Vá, tem calma já cá estamos meu lindo.

Disse-lhe o Rodri.

Ele cobria-nos de lambidelas de satisfação, por nos ter de volta.


Diogo, ao teu cão, só lhe falta falar lol!
Diziam os outros rapazes, que foram chegando.

Fizemos um joguinho de futebol, e rematamos com mais um bom e reconfortante mergulho.

Amarramos as t-shirts aos guiadores das bikes e começamos a pedalar para casa, disfrutando daquela frondosa paisagem em anfiteatro que a natureza nos oferecia.

Fizemos uma paragem junto de um pessegueiro onde comíamos os mais saborosos e suculentos pêssegos.

Ao longo do percurso, fomos colhendo algumas amoras, das quais eramos apreciadores.

O que na ida para o rio era fácil, já que íamos quase em roda livre, agora tínhamos que pedalar com mais afinco.

Em alguns pontos, o caminho tornava-se bastante sinuoso.


Já dava outro mergulho Diogo!

Dizia o Rafa.


Até eu, retorquio o Daniel.


Mesmo em tronco nu, o calor castigava.

Quando chegarmos a minha casa ligo a mangueira disse eu.


Diogo, tenho melhor ideia.


Qual André?


O meu Avô tem o tanque cheio, para regar mais logo, por isso podemos lá ir dar um mergulho.


Boa, isso mesmo.

Bora lá, só vou a casa, deixar o Dique, e vou lá ter convosco.

Abri o portão fronteiriço da minha casa, para o meu cão entrar.

Ele estava sequioso, e cansado.

Fiz-lhe uma festa, e segui viagem para casa do Avô do André, o Sr. Fonseca, um senhor muito simpático de quem todos nós gostávamos.


Então rapazes, não chegou o banho no rio?


Quando se chega aqui acima, já temos de tomar outro banho.

Respondeu-lhe o André.


Temos por arte mágica, inverter a posição do caminho!

Gracejou o Rodrigo.


Pois, para baixo todos os santos ajudam, o pior é na vinda.

Mas vocês são novos e valentes!

Vá divirtam-se.


Obrigado Sr. Fonseca.


De nada Diogo.


Se quiserem comer, tu André, conheces os cantos a casa, e a tua Avó prepara-vos um merendeiro.


Ok, Avô, obrigado.


Não viemos para aqui, para dar trabalho, disse-lhe eu.


Ora essa, Diogo mas que trabalho que carapuça.

Gosto de vocês, e são amigos do meu neto.

Em minha casa, os amigos são sempre bem recebidos, e vocês são da casa.

Esta, é uma das bandeiras, das gentes Alto-durienses, serem amigas do amigo, e hospitaleiras.


Até logo rapazes.


Até logo, dissemos nós em uníssono.


DIOGO_MAR

 

sábado, 1 de junho de 2013

CRIANÇA


Criança que despontas para a vida,
Entre sol, vento, noite e dia.
Não embaraces a tua caminhada,
Nem olhes para trás na tua via.

 
Caminha sempre em frente, frente olhar firme, passo sereno.
Tu como ser também és gente, e tens direito ao teu terreno.

 
Ao ouvires os ventos agrestes, que sinistros pela noite cantam
Não corras por caminhos tortuosos, nem fixes ilusões que em ti dançam.

 
Sê sempre criança de verdade,
Em tudo que na vida fizeres,
Enfrenta sempre a realidade
Mesmo o que de mal na vida tiveres.

 
Não deixes que em ti se apague,
O cristalino brilho do teu olhar.
Nem que maldosamente te tirem,
O bem que em ti despontara!

 

 
Diogo Mar